terça-feira, 19 de outubro de 2021

A cultura do consumo de carne não sustenta e não é sustentável!




Melhor proveito de uma vaca: Terapia de abraços!




A tradição na criação de bovinos no Brasil começou com a invasão dos europeus no país. De início, a principal função dos animais era tração animal para os engenhos de cana-de-açúcar. Porém, logo se tornou um problema, à medida que aumentava o rebanho, o gado disputava espaço com a monocultura da cana. A Coroa portuguesa então, delimita a área onde poderiam ser criados para longe da costa, o que acaba transformando o gado em um meio de expansão territorial para o interior do país.


Mais tarde no século XVII, a pecuária já havia se consolidado no país. Agora bem mais do que tração animal, a criação de gado abastecia os centros urbanos. À época, haviam diversos latifúndios dedicados à pecuária extensiva, especialmente no Nordeste. Portanto, muitas das tradições e hábitos, ligados à criação bovina se fazem tão presentes desde a colonização, e acompanham a história do povo nordestino. Um exemplo é a figura do vaqueiro, que de início, eram homens livres, por vezes filhos mestiços de índígena e branco, e que constituía a grande parte da mão de obra livre e assalariada da época.


Nesse contexto, fica difícil argumentar contra uma prática que faz parte da nossa cultura. E voltar às origens, de como se fazia antigamente, antes da revolução verde e de todos os malefícios advindos das práticas do agronegócio, parece a coisa certa a se fazer. Contudo, nós não podemos nos dar ao luxo de romantizar a pecuária. Nós não estamos nas terras ricas que existiam no século XVII. A própria prática de pecuária extensiva é um dos principais fatores para a degradação dos nossos biomas. Particularmente onde criar gado é norma na economia rural, seja para grandes ou pequenos produtores. A Caatinga, em especial, é um dos biomas que estão mais ameaçados. E muitas das mesmas regiões onde a pecuária foi mais bem sucedida, hoje se encontram desertificadas, ou em processo de desertificação. Suportando, as vezes por anos seguidos, duros períodos de seca, que não mais sustentam a tradição do sertanejo de criar esses animais, levando ao inevitável êxodo rural por conta da fome e miséria consequentes.


E não é só o clima nessas regiões que foi afetado. Sofremos hoje com as consequências do desmatamento, da desertificação e degradação do solo, como também da poluição do ar, água e solo, gerado pelas práticas humanas. Dentre elas, uma das maiores responsáveis é justamente a agropecuária, sobretudo no Brasil. Com a expansão do uso de terras, e consequente desmatamento de florestas, degradação do solo, o uso de água para a produção de alimento para os animais, nas culturas de grãos e leguminosas, com consequente poluição por agrotóxicos, e para o próprio consumo animal. Que, no caso das vacas leiteiras, pode variar entre 80 a 180 litros de água para cada uma por dia, dependendo da sua produção. A agropecuária é, nesse sentido, a maior responsável pelo consumo de água no mundo. São 70% globalmente, e 72% no Brasil apenas. E ainda há a emissão de gás metano, que tem 28 vezes mais poder de aquecimento da atmosfera do que o gás carbônico, e tem os bovinos como maiores responsáveis por essa emissão.

Proporção de gado para humanos e mamíferos silvestres na superfície da Terra.


Além disso, a expansão do uso das terras para a criação agroecológica de gado, se continuarmos consumindo seus produtos no mesmo nível atual, não justifica os resultados. Já que apenas cerca de 18% das calorias e 37% das proteínas na alimentação humana, são advindas do consumo de carne e laticínios. Logo, diminuir esse consumo é mais benéfico para o meio ambiente, do que a criação “sustentável” de gado. Já que a área necessária para o pastejo do gado aumentaria em mais de duas vezes comparado a atual. Além é claro, do espaço necessário para o cultivo de grãos e leguminosas na propriedade, destinados à complementação da dieta desses animais. Diminuindo ainda mais o espaço para as possíveis culturas de plantas alimentícias, que constituem a maior fatia da nossa dieta.



A proposta de transição agroecológica da criação e manejo de animais para agricultores familiares, que além de geralmente não possuírem incentivo fiscal ou capital para essa transição, podem não dispor de área suficiente para esse tipo de manejo. Manejo esse, limitante e demorado, podendo se arrastar por décadas. E, ao menos inicialmente, não interessante economicamente para o produtor. Já que demanda toda uma mudança de paradigma, estrutura, habilidades e costumes. E quando estamos enfrentando as mudanças climáticas, seria muito mais apropriado, como indivíduos e coletivo, que estivéssemos revendo as práticas que nos trouxeram aqui, do que nos dispondo a terceirizar a responsabilidade com a vida na Terra para àqueles que produzem nossos alimentos.


A nossa alimentação é a base de tudo. E, uma das principais formas de mudança, é nos reeducar e adotar melhores práticas de dieta. Com isso podemos parar nossa contribuição para a insalubridade do planeta, e de preferência, contribuir positivamente para sua revitalização. Nos preocupando com a origem e os processos de produção, para começar. Adotando práticas reais de regeneração do solo e da biodiversidade. E não transformando potenciais áreas de regeneração em sistemas silvipastoris, limitando esse potencial.


Como um sertanejo pode, por falta de escolha, sair de sua terra e ir tentar a vida na cidade, com consequente inchaço das cidades e aumento dos problemas ligados à vida urbana. Há também a possibilidade de aprender novos cultivos e produções. O compromisso do produtor rural é primeiramente com a produção de alimento, é sua relação com a terra. Não oferece nenhuma vantagem para ninguém, deixá-lo alienado da urgência na mudança de costumes. E portanto, o que deve ser pensado são novas formas de produzir e regenerar, junto ao agricultor. Que tenha benefício, tanto para o indivíduo que produz, como para o meio em que ele existe. Para que assim ele possa continuar trabalhando dignamente, e deixar um legado que possa ser reproduzido e aproveitado pelos seus descendentes.


Em alternativa à fabricação de queijo animal, temos por exemplo, o queijo vegano feito de castanha de cajú, que está dentro do que pode ser feito no Nordeste. Ou mesmo o processamento familiar ou em cooperativas, de culturas já conhecidas e muito usadas na região. Como a macaxeira, o amendoim, frutas que podem ser desidratadas (banana, manga, etc.), entre outras alternativas mais compatíveis com a escassez de água comum ao semi-árido. Tudo isso pode ser produzido em formas regenerativas de cultura, como na permacultura e na agrofloresta. E de forma coletiva, aproveitando melhor o espaço. O que além de aumentar a diversidade de alimentos disponíveis para as populações, num processo de transição agroecológica muito mais abundante, menos onerosa e com capacidade maior de fornecimento de alimento. Ainda garante a segurança econômica da família, sua segurança alimentar e principalmente, sua soberania alimentar.


O que nos impede de evoluir para práticas assim, além da tradição, é um culto ao consumo de produtos de origem animal, especialmente a carne, que serve ao agronegócio e a conservação do status quo. É portanto mais fácil se adaptar e adotar práticas mais sustentáveis, do que rever e evitar essas práticas por inteiro. Que é o que vem acontecendo com a propagação de ideias como a de “pastos regenerativos” sendo propagandeados como a principal forma de salvação para o planeta, e manutenção do estilo de vida humana. Como se isso fosse possível no momento em que as mudanças climáticas não são mais uma questão de quando, mas que já fazem parte de nossa realidade. Essa “sustentabilidade” é mais uma preocupação econômica de continuar explorando, do que ecológica. Não temos mais a opção de diminuir nosso impacto, isso deveria ter acontecido há mais de trinta anos atrás. Agora devemos trabalhar para regenerar a Terra ao jardim que ela era quando nossa espécie iniciou seu processo de ascensão e alienação perante à toda a vida no planeta.


*Texto originalmente escrito como atividade do curso de Agroecologia do IFS de São Cristóvão - Sergipe.


Referências:


Palestra “Bovinos em Sistemas Sustentáveis" ministrada pela professora Irinéia Rosa do Nascimento para alunos da disciplina de Seminários em Agroecologia e demais alunos do campus que estiveram presentes no dia 05 de março de 2021 pela ferramenta Google Meet.
 


A Growing Business. Cow cuddling : Animal Sanctuary in Maybee Michigan. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Jk5TaaJe2bU>. Acesso em 19 out. 2021.
 
YINON M. Bar-Ona, Rob Phillipsb,c, and Ron Miloa. The biomass distribution on Earth. PNAS. Abril de 2018. Disponível em: <https://www.pnas.org/content/pnas/115/25/6506.full.pdf>. Acesso em 19 out. de 2021.

CARRINGTON, Damian. Humans just 0.01% of all life but have destroyed 83% of wild mammals – study. Maio de 2018. Disponível em <https://www.theguardian.com/environment/2018/may/21/human-race-just-001-of-all-life-but-has-destroyed-over-80-of-wild-mammals-study>. Acesso em 19 out. de 2021.
 
SOCIEDADE Vegetariana Brasileira - SVB. A pecuária ocupa 75% das terras aráveis do planeta para pastagem e produção de ração – mas é responsável por apenas 12% das calorias consumidas globalmente. Disponível em: <https://www.facebook.com/SociedadeVegetarianaBrasileira/photos/a.297650146951187/1486164858099704/?type=3&theater>. Acesso em 19 out. de 2021.
 
HISTÓRICO. Cenários Para a Pecuária de Corte Amazônica, [s.d.]. Disponível em: <https://csr.ufmg.br/pecuaria/portfolio-item/historico-3/>. Acesso em 11 de mar. de 2021.


MIC THE VEGAN. Regenerative Grazing Debunked, 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rKjQfn-HR6g&t=723s>. Acesso em 11 de mar. de 2021.


RITCHIE, Hannah. Half of the world’s habitable land is used for agriculture. Our World in Data, 2019. Disponível em: <https://ourworldindata.org/global-land-for-agriculture>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.


RITCHIE, Hannah. Less meat is nearly always better than sustainable meat, to reduce your carbon footprint. Our World in Data, 2019. Disponível em: <https://ourworldindata.org/less-meat-or-sustainable-meat>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.

QUALIDADE e quantidade de água são críticas para o desempenho das vacas. EducaPoint, c2021. Pecuária de leite. Disponível em: <https://www.educapoint.com.br/blog/pecuaria-leite/qualidade-quantidade-agua-vacas/>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.
EMISSÕES mundiais de metano batem recorde, alertam cientistas. Poder 360, 19 de jul. de 2020. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/internacional/emissoes-mundiais-de-metano-batem-recorde-alertam-cientistas-dw/>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.


HAYEK, Matthew N. Underestimates of US emissions and global implications for industrializing animal agriculture. Tiny Beam Fund, Inc, 2019. Disponível em: <https://www.issuelab.org/resources/36458/36458.pdf>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.


LIVESTOCK'S Long Shadow Environmental Issues and Options. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2006. Disponível em: <http://www.fao.org/3/a0701e/a0701e00.htm>. Acesso em: 11 de mar. de 2021.

EMISSÕES globais de metano aumentaram 9% entre 2000 e 2017. EcoDebate, 2020. Disponível em: <https://www.ecodebate.com.br/2020/08/31/emissoes-globais-de-metano-aumentaram-9-entre-2000-e-2017/>. Acesso em 11 de mar. de 2021.


PENA, Rodolfo F. Alves. Atividades que mais consomem água. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/atividades-que-mais-consomem-agua.htm>. Acesso em: 12 de março de 2021.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Passagem

 Estava eu dando uma "sacada" nos textos antigos desse blog. E a essa altura, até o mais recente já é antigo. Afinal, vivemos na cultura do imediatismo, e o texto é de fevereiro deste ano. E por incrível que pareça, já lhe falta tópicos importantes que conheci após sua escrita. 

Pois bem, eu costumo dizer que gosto de escrever. Aliás, eu amo escrever! Mesmo que eu não considere que faço isso bem, não importa, pois é algo que me faz sentir presente, me faz sentir contribuindo. Sinto uma conexão com outras pessoas, mesmo que ninguém leia, ninguém comente comigo. Seja uma frase, uma poesia, um conto, textos como os que costumo publicar aqui. Ando até com ambição de voltar a escrever pequenos contos, talvez até um romance. Já as poesias não me apetecem tanto mais. Aliás, quero fazer música ao invés disso, alguém se habilita a me acompanhar em composições? Ah, eu não sei quase nada sobre música. Mas tenho estudado de leve sobre compor. 

Bem, voltando: escrever é algo que me interessa, com o qual tenho facilidade, me faz feliz, e no entanto, eu não faço com frequência. E não é por não ter o que dizer. É de minha natureza SEMPRE ter algo sobre o que falar. Mesmo que sejam só questionamentos, especulações... Eu aprendo através da comunicação. E eu tenho preferência pela escrita. Onde eu posso frear a velocidade dos meus pensamentos. Posso escolher sobre o que é melhor falar. Não vou me preocupar em estar tomando o tempo de ninguém. Afinal, só vai ler quem quer, não é mesmo?!

Eu sempre me surpreendo com a quantidade de assuntos que sinto vontade de abordar, apresentar a outras pessoas. A quantidade de descobertas, de interesses! Frequentemente lamento por não poder conversar sobre tudo isso o dia inteiro com alguém, ou mais de um alguém. As pessoas que têm um contato constante, ou mesmo esporádico comigo, sabem do que tô falando. 

Então, a ideia de criar um site onde eu possa depositar toda essa "verborragia", como chama meu terapeuta, aparece vez ou outra. E não, eu não sinto que um blog fosse a ferramenta adequada pra isso. Eu precisaria categorizar, e blogs não são muito práticos pra isso. Algumas pessoas sugeriram que eu usasse as redes sociais com essa finalidade. Claro, manejando para não me afetar tanto num ambiente tóxico e negativo. Mas costumo responder que não é sobre o alcance do que digo, é sobre a liberdade de falar sobre o que eu quiser, sem medo de hater, sem preocupação com conteúdo, engajamento. Que, diga-se de passagem, me mata nas redes sociais. Não sei lidar com rejeição, porque tenho a maturidade emocional de um bebê. Isso não quer dizer que as pessoas não podem discordar de mim, não é isso! É mais sobre a necessidade de interação humana, de me conectar mesmo. E as redes sociais, apesar de tornar isso possível. O faz de uma forma superficial, insatisfatória para mim. E que dá margem pra muito mal entendido, com os quais ainda não sei lidar. No fim das contas é internet. Ninguém tem tempo pra parar e ouvir e entender o outro.

Além do mais, é humanamente impossível interagir num nível de conexão profunda com todo mundo na internet, eu sei! Acredito mesmo que tenhamos que escolher as pessoas com quem valem a pena se conectar de qualquer forma que seja. É só que eu ainda não aprendi a fazer isso direito. E acabo por vezes derramando minha atenção nas pessoas. E elas, compreensivelmente, não têm tempo a perder. Nem todo mundo com quem interajo é assim. A maioria me dá bastante atenção. A qual sinto que não mereço, e não puxo conversa com a pessoa depois, pra não abusar de sua boa vontade/não incomodar. Pelamordedeos, alguém diga que também se sente assim!

Se eu conseguir realmente criar esse site. A proposta é alimentá-lo todo dia, com coisas que me fascinaram, despertaram minha curiosidade, etc. Servindo, além de um espaço para eu consolidar pensamentos, guardar informações... Um lugar para divulgação de coisas que eu considero úteis e/ou fantásticas de alguma forma. Certamente tendo algo de útil pra outras pessoas também, assim espero!

Esse texto está servindo de uma justificativa de porque não faço isso nas redes sociais, ou mesmo aqui! Que assim seja então!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Agrotóxicos e transgênicos, sua relação com as mudanças climáticas e o potencial do Brasil numa prática regenerativa

Hoje o Brasil é o segundo país a usar mais sementes transgênicas, e o maior no uso de agrotóxicos, inclusive o segundo maior consumidor de agrotóxicos proibidos em outros lugares do mundo. Mas o que é produzido no país? E mais importante, a quem é destinada essa produção? 

Aqui, como em outros países da América latina, e outros países subdesenvolvidos no globo, produz-se commodities agrícolas, entre outros. Que em geral são exportados para os mesmos países que proíbem o uso de agrotóxicos e transgênicos em suas terras. Mas, curiosamente, permitem a importação de produtos transgênicos, e em que foram usados os mesmos agrotóxicos proibidos por lá. Fazendo de países como o nosso, os chamados "celeiros do mundo", pela alta taxa de produção de grãos.

Mesmo com essa alcunha, aparentemente tão importante e simbólica, esses países permanecem miseráveis. Produzir mais alimento para o mundo, além de não promover nosso crescimento econômico, tem exaurido nossos bens naturais. Como:

  • a biodiversidade, tanto vegetal quanto animal, com o desmatamento de florestas para a implantação de monocultura em larga escala; 
  • o solo, que passa de um deserto verde, com as monoculturas, a deserto no sentido literal, por esgotamento deste, em poucos anos de mau uso; 
  • a água, dos recursos mais importantes! Motivo para a vida nesse planeta ser possível. 

A agricultura é responsável por mais de 60% do consumo de água doce no mundo. No Brasil esse número aumenta para 70%. Água essa que se torna contaminada pelos produtos químicos usados, que acabam chegando aos nossos rios, lençóis freáticos e até os oceanos. 

Concluímos portanto que o agronegócio é a prática de troca da vida por dinheiro. Para a sustentação de um modelo de negócio que se baseia, principalmente, na produção de alimento para a pecuária, e na própria pecuária em si. Como no caso da soja e o milho, dois dos produtos mais plantados no Brasil, que são voltados para a alimentação animal na pecuária. Que é um dos maiores causadores de gases do efeito estufa. Nosso país, como um dos maiores exportadores de carne, é portanto, um dos maiores contribuidores para as mudanças climáticas. Com as práticas de destruição de florestas para instalação de monoculturas e pastagens. 

Nos últimos anos, o descaso do poder público com o meio ambiente e os territórios dos povos tradicionais, aumentou o desmatamento ilegal e as queimadas da mata restante, principalmente nos biomas da Amazônia e Cerrado. Ameaçando, não só a existência desses biomas e sua biodiversidade, mas a própria vida no planeta. Uma vez que retiradas as florestas, é questão de tempo para os desertos se consolidarem. Sem floresta, não há chuva. Os oceanos vão retirar a umidade dos continentes, causando secas, aumento da temperatura do planeta, e fenômenos como tufões, tornados, enchentes, secas, tempestades, invernos rigorosos e outros desastres naturais. Que são só alguns dos exemplos do que veremos cada vez mais, enquanto navegamos por um clima, não mais tão cômodo pra vida. Isso tudo virá associado a uma massiva extinção de espécies alimentícias, além de fauna e flora silvestre. E consequente fome, com um maior agravamento da pobreza no mundo. Esse é o período geológico causado pelo humano, o Antropoceno. Resultado de séculos de colonização do resto do mundo pelos europeus, dois séculos de industrialização, e menos de um século da Revolução verde.

E ainda nem adicionamos à equação o fator humano. Antes da Revolução verde realmente se consolidar no Brasil, a população rural e urbana era equilibrada. A maioria dos brasileiros viviam no campo nos anos 60s, 55,3%. Em dez anos, o oposto acontecia, e a maioria da população se tornaria urbana, 55,9%. De lá para cá, apenas cerca de 15,6% da população se encontra em regiões rurais. Isso é resultado direto do Agronegócio. Vários fatores contribuíram para isso. Entre eles:

  • a instalação de grandes latifúndios com maquinários e tecnologias que dispensam muita mão de obra;
  • o aumento na ocorrência das ditas "pragas" e doenças das lavouras, como consequência do uso desses agrotóxicos;
  • contaminação das sementes crioulas (sementes selecionadas e plantadas por agricultores e passadas por gerações) por polinização cruzada com as sementes transgênicas, causando alterações inesperadas e desvantajosas;
  • falta de constância das chuvas, e aumento na ocorrência de fenômenos ligados às mudanças climáticas, como secas prolongadas e geadas fora de tempo; 
  • propaganda e educação financiada pelo próprio Agronegócio (no Brasil desde os anos 40 com a Fundação Rockfeller e seu programa de extensão e educação rural), com práticas tradicionais de agricultura sendo rebaixadas como "atrasadas" e inadequadas para a modernidade, e o estímulo para a "modernização" do campo;
  • desvalorização do trabalho no campo, tido como muito duro, e adequado apenas à pessoas sem educação formal. Desestimulando assim a permanência dos jovens, principalmente de territórios tradicionais, em suas comunidades. Que por falta de autoestima e melhor alternativa de sobrevivência, acabam migrando para os centros urbanos;
  • falta de estrutura e apoio do estado para agricultura familiar e área rural em geral, entre outros.

É esperado que pouco mais que 15% da população trabalhe para alimentar todo o restante, em condições precárias e sem valorização de seu trabalho e dos frutos do seu esforço. Não é de se admirar que as novas gerações procurem se educar em campos não voltados a agricultura, e abandonem a zona rural em busca de oportunidade melhor de vida nas cidades. O que acaba por gerar e aumentar os problemas nos centros urbanos, como falta de estrutura, saneamento básico, saúde, educação, criminalidade, etc.

Possíveis Soluções

O Brasil existe como um país rico em bens naturais que poderia ser uma potência econômica mundial. E mais importante, um exemplo de como desfrutar bem de toda essa riqueza natural, sem nunca esgotá-la, e tendo um povo vivendo bem desses, e por esses recursos. Para isso podemos trocar o Agronegócio, que só envenena, empobrece e não alimenta nossa população, por Ecoturismo e Turismo agroecológico.  Mantendo nossas reservas naturais, melhorando a vida das comunidades que vivem nesses territórios, sua autoestima e renda. Resolvendo o problema de evasão rural, e por consequência,  melhorando as condições nas cidades. 

Com isso, as terras, antes usadas pelo latifúndio, poderiam finalmente ser distribuídas, através da tão esperada e atrasada Reforma Agrária, e regeneradas com práticas como Permacultura e  Agrofloresta Sintrópica. Num esforço de recuperar nossos biomas, enquanto produzindo comida saudável, local, diversa e economicamente mais viável, do que as práticas agrícolas atuais. Essa mudança não é só possível, como existente atualmente em pequena escala. Hoje movimentos camponeses como o MST já trabalham de forma agroecológica. E, pelo menos 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros vem da agricultura familiar, e não de grandes latifúndios. Claro que um esforço para capacitação de uma assistência técnica e financiamento inicial se faria necessário e indispensável. 

Seria essencial uma prática de educação socioambiental, e implementação de programas como: práticas de agricultura urbana; saneamento básico com reciclagem de água e lixo; implantação do uso de energias ditas limpas; reeducação alimentar favorecendo o consumo de alimentos não processados e a redução do consumo de animais; implementação de melhoria dos transportes coletivos nas cidades; melhoria no planejamento urbano, e por fim, e não menos importante, um sistema de educação voltado para a cooperação e valorização da diversidade, de ideias, de corpos, de origens, e não mais na competição e padronização. 

Uma interação maior das pessoas com seus territórios e sua natureza, melhorando seu convívio com a Terra, nos curando da ideia de que estamos de alguma forma, separados da vida no planeta. Nos fazendo entender que como parte dessa vida, e como ser racional, que pode planejar seus atos, podemos contribuir pra sua manutenção e melhoria. Mesmo assim, sem dar as costas para o progresso científico e a modernidade. Porém nesse modelo, cada um teria seu papel na mudança. Ninguém esperaria apenas pelo Estado ou empresários. Seriam necessários grandes sacrifícios, responsabilidades e tempo para adaptação e observação de resultados. 

Uma das maiores lições na Agroecologia é que o tempo da Terra é diferente do tempo humano. Se queremos algo rápido, fácil, e portanto lucrativo economicamente, podemos estar sacrificando o nosso tempo como espécie no planeta e também como indivíduos. E no processo, sacrificando outras espécies. A Terra tem suas atividades de autorregulação, é resiliente... Mas passamos dos limites de estresse que poderíamos causar a esse organismo, do qual ele pudesse se recuperar. Estamos falando agora de uma Terra que passa por um quadro de redução de saúde, que a levaria, fazendo um paralelo com o corpo humano, a UTI. Queremos retribuir à divindade da Vida, transformando esse ser tão generoso e estatisticamente improvável, com seu clima perfeito à vida como conhecemos, em mais um planeta estéril nesse Sistema?! A vida é o que faz a própria vida possível no planeta! Tudo funciona igual ao nosso corpo, com processos de regulação minuciosos. E são esses processos que estão sendo quebrados por nossas ações como espécie. Não é mais possível decidir por não fazer nada, e não é nada inteligente continuar ignorando o chamado para a mudança e ação!

 Fontes consultadas (de leve, não muito cientificamente):

AGROTÓXICOS, SEMENTES TRANSGÊNICAS E NOVAS BIOTECNOLOGIAS - http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/22988/14276

PROPRIEDADE MONOPOLISTA DE SEMENTES: DO BEM COMUM À
 
A BIOTECNOLOGIA E SEUS USOS ENTRE SEMENTES CRIOULAS E TRANSGÊNICAS:DUAS FACES DA TECNOLOGIA E UM CASO PARA A BIOÉTICA - https://revistas.unicentro.br/index.php/guaiaraca/article/view/6142/4242
 
O AQUECIMENTO GLOBAL E A TEORIA DE GAIA: SUBSÍDIOS PARA UM DEBATE DAS CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS - https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/720

PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO USO DE AGROTÓXICOS E SEMENTES TRANSGÊNICAS - http://tede.unioeste.br/bitstream/tede/4034/5/Gislaine_Santos_2018

Brasil é 2º maior comprador de agrotóxicos proibidos na Europa - https://ciclovivo.com.br/vida-sustentavel/alimentacao/brasil-e-2o-maior-comprador-de-agrotoxicos-proibidos-na-europa/
 

Atividades que mais consomem água - https://brasilescola.uol.com.br/geografia/atividades-que-mais-consomem-agua.htm

A MIGRAÇÃO DO CAMPO PARA OS CENTROS URBANOS NO BRASIL: DA DESTERRITORIALIZAÇÃO NO MEIO RURAL AO CAOS NAS GRANDES CIDADES - http://www.congresso2017.fomerco.com.br/resources/anais/8/1502235198_ARQUIVO_fomerco_AMIGRACAODOCAMPOPARAOSCENTROSURBANOSNOBRASIL.pdf

 
Agrotóxicos proibidos na Europa são campeões de vendas no Brasil - https://reporterbrasil.org.br/2018/12/agrotoxicos-proibidos-europa-sao-campeoes-de-vendas-no-brasil/
 
 
 
Qual a contribuição do Brasil para as mudanças climáticas? E qual o perfil das emissões brasileiras? - https://ipam.org.br/entenda/qual-a-contribuicao-do-brasil-para-as-mudancas-climaticas-e-qual-o-perfil-das-emissoes-brasileiras/

Alguns documentários e vídeos quea a entender o Agronegócio e suas impactos para as mudanças climáticas e a vida humana, e sobre Agroecologia e Agrofloresta sintrópica:

Cowspiracy - A Conspiração da Vaca 

 


https://www.youtube.com/watch?v=sgj5Z9MZOaI 

 

O Mundo Segundo a Monsanto 


 

https://www.youtube.com/watch?v=sWxTrKlCMnk

  

Agrofloresta - agricultura recuperando o meio ambiente

 


https://www.youtube.com/watch?v=uSiuV0CkREM


Ser Tão Velho Cerrado


 



Agroecologia, Agrofloresta e PANC | Valdely Kinupp

 


https://www.youtube.com/watch?v=1H4ySHAJyB4

 

 E qualquer vídeo no Youtube com o Professor Antônio Donato Nobre, mas aqui vão alguns:

Sobre Teoria de Gaia, Mudanças climáticas e práticas regenerativas:


 
https://www.youtube.com/watch?v=FkDaQXlrHyA&t=64s

 

Córtex com Antonio Nobre. Mudança Climática e o Fim do Mundo Materialista
 
 
 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Vibração

Tudo no universo vibra, mesmo o que parece completamente parado, vibra num nível molecular... E com essa reflexão eu quero começar uma atualização aqui neste blog.

Eu nunca mudei tanto antes, ou de alguma forma me movi, como durante essa quarentena. E falo quarentena porque tenho realmente permanecido distante fisicamente de todas as pessoas, até das mais queridas, exceto é claro, do meu companheiro. Isso porque tenho essa possibilidade, de estudar de casa, e sem trabalhar, a não ser nas tarefas domésticas e atividades de manutenção de vida. Da nossa, e dos seres que aqui cuidamos. Que devo lembrar sempre, mesmo que eu não o faça bem e regularmente, é um trabalho válido e necessário.

Talvez pelo apoio recebido, do meu companheiro, meu terapeuta, professores, novos e velhos amigos... Talvez pela curiosidade e vontade de me encontrar na equação da vida. Tenho aprendido mais do que nunca! Reconhecido o que são problemas, e o que me fizeram enxergar como tal. Aceitar a vida como ela se apresenta é uma luta constante, mas se prova a coisa certa a se fazer, de novo e de novo. 

Claro que não estou falando de aceitar o que posso mudar, como esse desgoverno e esse adormecimento às questões urgentes que dizem respeito à manutenção da vida na Terra, e da Terra. Não, não isso, mas de coisas com as quais vale mais a pena acolher que lutar contra. Vale mais a pena aceitar que condenar e tentar mudar a todo custo, ou reprimir.

Cresci espiritualmente, de uma pessoa ateia, antes quase fanática, a alguém que entende que a vida em si é uma divindade, e que TUDO é vivo, dentro e ao redor de nós. 

Cresci, e continuo trabalhando para crescer mais, no meu relacionamento afetivo. Entendendo nossas limitações e necessidades. Estudando sobre como aprendemos a amar, e que cada um ama e se sente amado de forma diferente. E principalmente, que não se deve esperar que o outro te dê o amor que você se deve. 

Apesar dos golpes constantes, e talvez até por conta destes, minha vontade de estudar Agroecologia, e trabalhar com comunicação e educação ambiental só cresce, pois a necessidade se faz cada vez maior e mais presente. E tão urgente que está atrasada uns 30 anos...

E com isso, venho aqui apenas para recomendar palestras e entrevistas com o Professor Antônio Donato Nobre sobre Mudanças Climáticas, sobre a importância de se ouvir os povos tradicionais e seus conhecimentos a cerca da vida nesse organismo vivo que é a Terra, sobre a nossa desconexão com Ela, sobre em como chegamos aqui, e principalmente, do que precisamos fazer para parar de trabalhar contra a vida, e trabalhar em seu favor!

Primeiro uma pesquisa sobre o nome de Antônio Nobre no Youtube já te trará uma grande quantidade de vídeos de dimensões diferentes, mas riquíssimos em conteúdo e importância para o entendimento de nossa condição humana e dos processos que acontecem na natureza. Dos quais o ser humano "civilizado" precisou investigar para aprender, quando os povos e culturas tradicionais, que não perderam a conexão com a Terra, conheciam e sempre estiveram dispostos a partilhar generosamente com seus irmãos desconectados.

https://www.youtube.com/results?search_query=antonio+nobre

Programa Córtex, uma conversa em tempo real com o Antônio Nobre no INPE. Imperdível!

https://www.youtube.com/watch?v=_9-fia-bdlo

Entrevista (palestra?) sobre Mudanças climáticas e a Terra como organismo vivo e os estudos a respeito da mesma.

https://www.youtube.com/watch?v=FkDaQXlrHyA

Conversa entre Ailton Krenak e Antonio Nobre para reflexões sobre Gaia (Terra).

https://www.youtube.com/watch?v=ozOla97mP9Y

 Eu diria assistam todos, é o que estou fazendo aos poucos.

 Descobrir o trabalho dele, como divulgador científico, e uma pessoa que faz tantas conexões, tão inesperado para um cientista, mas muito alinhado com a visão sistêmica da Agroecologia como ciência, me deixou fascinada e estou vibrando desde então. Tenho a impressão que o norte que eu busco, está se estabilizando, e que eu só preciso colocar o pé no chão e começar a andar.

Que meus passos também possam inspirar outros. Que o "trabalho de formiguinha" , não seja visto de forma pejorativa como hoje, mas como uma ação válida e constante para o alcance coletivo do que se faz tão mais urgente e necessário a cada dia que passa, a cada decisão e ação de gigante que vão contra as regras de colaboração e diversidade da natureza. Porque sozinho o esforço é grande e dispendioso, mas juntos podemos mover o mundo!


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Encontro


Apesar de passar a maior parte da minha vida adulta de forma reclusa. Eu considero que o que me move, e por vezes me comove, é o contato com outras pessoas. E não só isso, mas a conexão derivada desses contatos. Então, depois que recuperei uma certa normalidade na vida, voltando a estudar. Até as férias já foram um tormento. Após duas semanas eu já estava chorando dizendo que bastava, imagina agora! E quanto mais o tempo passa, e as coisas ficam cada vez mais incertas, mais eu me dobro pra não me deixar tomar pela ansiedade de pensar sobre o que será do depois. Então vamos analisar o agora.

O nosso problema não é mais a pandemia do que nossa inabilidade de concordar em alguma coisa. Vivemos um momento de polarização. Não é o único da história, mas por estar acontecendo agora, durante uma pandemia, parece tão devastador!

As pessoas estão fora de contato umas com as outras, fora de contato com elas mesmas, e com a realidade. Porque essa é provavelmente uma das maiores crises a nível mundial que a humanidade está enfrentando, com tendências a piorar. E ainda assim a gente está envolvido em defender ou atacar personalidades. Sim, ao invés de nos unirmos para um bem comum, até as famílias estão divididas. A quem serve toda essa discórdia e caos? De onde vem essa esquizofrenia coletiva que estamos vivendo onde a vida, sua, de um ente querido ou de estranhos, é menos importante que continuar achando que está certo? O que aconteceu a essas pessoas para que se rendam a delírios sobre gurus, salvadores da pátria, e negacionismo da História, da Ciência?

Eu entendo a nossa tendência ao fanatismo, à tirania. É um alívio para a angústia de ter escolhas, de ser responsável por elas, e de não ter outra pessoa a quem culpar quando tudo dá errado. É resposta natural a uma sociedade que de repente nos coíbe com uma falsa liberdade apresentada através de escolhas infinitas. Quando na verdade, poucas vezes podemos escolher fora do padrão sem pagar o alto preço pela individualidade.

Quando não me enxergam como igual, quando me vêm como "o outro", eu me torno desumanizado. Quem me vê assim, me despe de direitos. Me tira a fala, e em consequência, a vida. Ser o outro significa não merecer nada de bom. Significa ser uma ameaça. Um bode expiatório para responsabilizar por tudo que considero ruim. E aí está o ponto de encontro da dicotomia que vivemos. Você, não importa em que lado esteja, é esse "outro" de alguém. Você pode estar vendo o próximo como parte de uma massa anencéfala, que é literalmente a escória do mundo contemporâneo. E essa pessoa, não está te vendo de forma muito diferente. Como se cura isso?! Não há pílula que nos resgate desse delírio, ou há?!

Crises são importantes oportunidades de crescimento. Crescer dói, não é prazeroso, mas é recompensador. A gente precisa de humildade pra acolher o próximo. Se ele esteve errado, dê oportunidade para que se arrependa, e que sua punição não seja o mesmo que seu crime, o isolamento, o individualismo. Esse momento não é o certo para torcer contra, eu diria que nenhum é.

Vamos recalibrar nossas emoções, nos reaproximar, nos ouvir. Não provoque, não ameace, e se sua intenção é que o outro enxergue a realidade, não ofenda. A ofensa é a garantia de não ter ouvidos pra alcançar. Encontre no outro o que têm de igual ou similar. Parta do princípio que como seres da mesma  espécie, ninguém é tão divergente do outro que não tenha, ao menos uma coisa em comum.

Tendo dito tudo isso, eu tenho que reconhecer que há pessoas além da redenção. Não tenho respostas do que é necessário para que elas sejam responsabilizadas. Mas, por agora, para lidar com elas, basta lembrar de não alimentar o medo, seu combustível. Não podemos forçar ninguém a pensar sobre seus atos, a sentir empatia, e agir com amor. Mas, uma vez conscientes, nós podemos fazer justamente isso.

O amor, amor por si mesmo e pelo outro, como uma extensão de você, e pelo que é divino dentro e ao redor de nós, isso é a única coisa que pode nos salvar de nós mesmos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Em busca de raiz

Já tive as mais diversas crises desde que essa pandemia se instaurou. O que tem mantido minha relativa sanidade é manter contato com os professores do meu curso, e algumas atividades aqui e acolá, meus encontros online com meu terapeuta, e minha contínua busca por conhecimento, em especial autoconhecimento.

Lendo sobre pós junguianos, me deparei com o James Hillman, e em seguida com a menção de Ecopsicologia pela primeira vez. Eu me entusiasmei por entender naquele instante, ser o casamento da psicologia com a ecologia, dois dos meus assuntos preferidos. 

Vi alguns vídeos do James Hillman falando a respeito, mas pra compartilhar essa novidade, eu precisava de conteúdo em português. Encorajada pela minha professora de Ética e meio ambiente, eu fui em busca. Não foi nada difícil encontrar bastante conteúdo, em forma de vídeo no Youtube, do psicólogo e teósofo brasileiro Marco Aurélio Bilibio. E até um site dedicado https://ecopsicologiabrasil.com/. De início eu estava fascinada, e vendo todos os vídeos de suas palestras e entrevistas. Agora eu to tentando agir com mais parcimônia e levar um tempo pra pensar a respeito do que ouvi. Já há alguns dias não vejo um inédito. No último vídeo seu é que notei, até pela fala dele, que, apesar da ecopsicologia ser um estudo recente, é centrada no conhecimento ancestral dos povos originários dos continentes invadidos, como também nas filosofias e religiões orientais, como o Taoismo, por exemplo. E por tanto, eu deveria me aprofundar nessas leituras e experiências. 

Antes de conhecer a Ecopsicologia, minha meta era ensinar Agroecologia, e assim enriquecer a vida das pessoas, com todas as possibilidades que a Agroecologia possibilita, tendo uma escola, ou mesmo ensinando em lugares diversos, mas definitivamente tendo um ambiente modelo. Agora tenho também a intenção de promover além do ensino ambiental, o bem estar humano, através da ecopsicologia, e dos conceitos de unidade com a mãe terra. E há a possibilidade, já que há cursos de formação, e até planos para um curso de pós-graduação. Não fosse a impossibilidade no momento, nem as incertezas, estaria me planejando pra seguir pra Brasília e aprender. Mas, tudo a seu tempo!

Daí, ontem o Youtube me sugeriu um documentário chamado "The Earthing Movie: The Remarkable Science of Grounding", e eu respondi assistindo. Inicialmente achei que seria sobre o processo degradação do planeta, eu não li nem o título inteiro. O vídeo começa seguindo um casal de cineastas e ativistas ambientais sofrendo as consequências por ter se exposto a um químico, enquanto gravavam sobre um grande vazamento de óleo. Depois, em busca de cura (ou melhora de vida) para a filhinha deles. E aí é que o filme realmente começa, nos contando a história de como, um dos autores do livro "Earthing: The Most Important Health Discover Ever" chegou a conclusão que usar sapatos nos isola do campo magnético da Terra, e nos inibe de trocar energia com nosso planeta, e de como isso é prejudicial para a nossa saúde.

É de se esperar que, no mundo atual, a ideia de que algo tão simples quanto ficar descalço possa melhorar nossa saúde é de, no mínimo se desconfiar. Mas como é fácil de testar, e se não há nenhum obstáculo, não haverá nenhuma contra indicação também (exceto em espaços urbanos). O intuito é ficar descalço, ou pelado se puder deitar no chão, e ter contato pele com terra, ou grama, ou pedra. Os autores do livro e adeptos da prática afirmam que esse ato tão simples tem poder de amenizar inflamações. E inflamações são as causas mais comuns dos sintomas que tendemos a tratar com remédios farmacológicos, sem ao menos saber sua causa. Um outro dado que recordei durante o filme, é que inflamações, seja onde for, estão ligadas à quadros de depressão.

Ontem mesmo experimentei ir a um lugar mais ou menos isolado do sítio, largar os chinelos e meditar de pé no chão e com a cara pro sol, debaixo das árvores. Foi delicioso, e eu me perguntei porque não é sempre assim que medito. Não sei se por consequência de ficar feliz com mais essa forma de reconectar com a terra, ou do ato em si, mas eu me senti mais calma e centrada ontem. E hoje, levantei mais cedo que o que costumo durante essa quarentena, e fui fazer algumas pequenas coisinhas pelo sítio. Mas eu precisava falar sobre isso com vocês, então passei um tempo fazendo outras amenidades, e agora estou aqui. 

Algumas palavras da minha professora de Ética e meio ambiente sobre propósito, e uns reflexos que fiz ao assistir o filme e perceber o processo que levou o Clint Ober a esse conceito da necessidade da conexão com a Terra, além da palestra no TED Talk do ativista e Jardineiroguerrilheiro, como ele se define, Ron Finley, que está mudando a saúde, os hábitos e a cara de sua comunidade na periferia de Los Angeles, me fizeram concluir que a experiência de cada indivíduo nessa Terra é única. Com elementos que não se repetirão da mesma forma em outra vida, e isso nos dá a possibilidade de enxergá-la e servi-la de forma única. Não pense que não há nada que possa fazer de bom. Como uma célula nesse organismo vivo, todos temos nosso próprio papel. Não abdique ao dever que é também o seu direito!

Vídeo do Youtube, entre palestras e entrevistas com o psicólogo e teósofo Marco Aurélio Bilibio:


Documentário Earthing no Youtube em inglês, não encontrei com legendas:

https://www.youtube.com/watch?v=44ddtR0XDVU&t=24s

TED Talk do jardineiro guerrilheiro Ron Finley com legendas:

https://www.youtube.com/watch?v=EzZzZ_qpZ4w


domingo, 8 de dezembro de 2019

Renda!

É fim de período no IFS. Questões que eu considerava um problema antes, já não me abalam tanto mais. Estou relativamente feliz, apesar de ser bombardeada com os absurdos que acontecem no Brasil, no mundo!

O otimismo vem de uma percepção, talvez não muito bem fundada, quase um desejo que não seja ilusão, de que as mudanças estão acontecendo, a passos lentos para a necessidade, sim, mas elas estão!

Sinto isso com o veganismo: agora há o que algumas pessoas estão chamando de "modinha" de pessoas adotando uma dieta a base de vegetais, ou mesmo se tornando veganas, militando e tudo. E enquanto isso, a indústria da carne parece desesperada para barrar isso, enquanto redes de fast food, indústria de frios, todos, criam pratos e produtos veganos. Talvez por conta do sucesso estrondoso desse tipo de produto. Por isso minha esperança. Geralmente o que acontece são algumas tentativas desesperadas de derrubar o novo, danosas e retrógradas, antes de notar que para sobreviver você deve evoluir também. Estou no aguardo!

O movimento agroecológico no cultivo de alimentos também está crescendo, apesar das iniciativas do nosso governo, por exemplo, de liberar geral agrotóxicos. Há um movimento crescente para fazer tudo de forma mais natural. Ao invés de pesticidas, controle biológico, que é o uso de extratos de plantas, a introdução de insetos (como a joaninha), ou o uso de microrganismos como fungos e bactérias em plantações para controlar, por assim dizer, outros organismos danosos àquela plantação. Além do advento de culturas mais voltadas para uma maior diversidade de espécies plantadas, e formas diferentes de plantá-las, como a Agrofloresta. E não só pra controlar "pragas" mas também na recuperação do solo. Sim, o solo, não a planta!

O solo é um organismo com vida, não só um espaço onde plantar os vegetais, e ele deve ser cuidado. Especialmente depois do que a monocultura e a pecuária fizeram às terras que foram desmatadas para uso. Tudo em busca da sustentabilidade! Essa é a palavra de ordem, mas não é a correta. Na crise que nos encontramos, nada mais é sustentável. Estou certa de que o que separa a população geral de uma alimentação mais rica e saudável é, principalmente o conhecimento. Existem até plantas tão adaptadas a solos pobres e falta de cuidado que, literalmente são tidas como "ervas daninhas", porém são comestíveis e nutricionalmente ricas, chamadas de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais), outras são poderosas plantas medicinais. Seu alimento é o seu remédio, ou o seu veneno. Educar-se te dá o poder da escolher qual dos dois.
 
Movimentos como os LGBTQIAP+, que é resistente, resiliente, e apesar do sofrimento e ameaças, não está mais disposto a se calar. Todas as mulheres trans e travestis, todas as artistas drags na mídia, trazendo suas palavras, falando de seu sofrimento, mas também de seus desejos, sonhos. Hoje, crianças e jovens não héteros, e especialmente os não cis, podem se ver representados. E isso tem uma enorme diferença no desenvolvimento saudável dessas pessoas, e na possibilidade de que suas vidas não sejam repeteco de tanta gente que sofreu e ficou pelo caminho, se foram muito cedo, ou morreram em vida mesmo, vivendo algo que não era sua verdade. A gente sai do armário, a gente fala a nossa verdade, a gente enaltece umas às outras, pra que mais pessoas possam ser livres e felizes, e principalmente donas de sua própria história. Então estamos aqui pra dizer que amor é amor, e que gênero é um papel social. Que nada deve ser imposto, deixa tudo ao natural.

E um movimento tão importante, o feminismo, que luta pela equidade, que é um conceito difícil de entender, e por isso a confusão com o entendimento do feminismo como algo similar ao machismo. Não! A equidade de gênero se trata de uma correção na parcialidade do que é aceitável na sociedade tanto como dever ou direito da mulher. As mulheres não estão buscando nada além do que como ser humano lhe é de direito. O feminismo não é se impor sobre os homens, inferiorizá-los. É ser igual, partir das mesmas oportunidades, sem os obstáculos que se impõem exclusivamente ao gênero feminino. 
 
A ansiedade masculina perante ao potencial feminino, sua força, é conhecido e esperado. Nesse momento, como em outros que já passaram, há uma grande aversão, principalmente dos homens que se sentem ameaçados com a possibilidade de não ter mais poder sobre as mulheres de suas vidas, sejam suas companheiras, irmãs, filhas... E pessoalmente, considero que um medo também de ficarem sozinhos, de não serem tratados como especiais, pois não sabem dividir o poder. Ou talvez medo mesmo de que aconteça a eles, o que acontece às mulheres desde os primórdios. O que mais dói é a ignorância das mulheres machistas, manipuladas em geral, por uma sociedade viciada, e/ou por homens estúpidos ou intelectualmente desonestos e corruptos. E é por isso que o feminismo é um movimento que, sinto, é guarda-chuva para as lutas de todas as minorias. Dentro dele, a luta das mulheres negras. Num país em que as pessoas têm que se descobrir negras. Não por conta da miscigenação e uma falta de racismo. Mas pelo racismo velado, pela ideia de valor de características brancas. Tão danoso num país onde ainda é tão difícil fugir dos estereótipos. Difícil acessar educação sendo de periferia, com tantos obstáculos. Daí a importância da autoestima negra, periférica, feminina desse recorte do movimento.

Eu sei que toda essa visão positiva pode ser resultado da bolha em que me encontro. Mas eu to aqui fazendo meu papel, botando a cara ao sol, levantando questões e sendo eu mesma, sem pedir licença, sem pedir desculpas. Mas sem briga, que minha maneira de viver não é de embate, é de amor e tolerância. Dou o que espero pra mim. Lembro de um pensamento que diz que quando gritamos, mesmo quando nossos corpos estão próximos, é porque nossos corações estão distantes. 
 
Quero que meu coração esteja tão próximo aos demais, que eu só precise sussurrar!