domingo, 8 de dezembro de 2019

Renda!

É fim de período no IFS. Questões que eu considerava um problema antes, já não me abalam tanto mais. Estou relativamente feliz, apesar de ser bombardeada com os absurdos que acontecem no Brasil, no mundo!

O otimismo vem de uma percepção, talvez não muito bem fundada, quase um desejo que não seja ilusão, de que as mudanças estão acontecendo, a passos lentos para a necessidade, sim, mas elas estão!

Sinto isso com o veganismo: agora há o que algumas pessoas estão chamando de "modinha" de pessoas adotando uma dieta a base de vegetais, ou mesmo se tornando veganas, militando e tudo. E enquanto isso, a indústria da carne parece desesperada para barrar isso, enquanto redes de fast food, indústria de frios, todos, criam pratos e produtos veganos. Talvez por conta do sucesso estrondoso desse tipo de produto. Por isso minha esperança. Geralmente o que acontece são algumas tentativas desesperadas de derrubar o novo, danosas e retrógradas, antes de notar que para sobreviver você deve evoluir também. Estou no aguardo!

O movimento agroecológico no cultivo de alimentos também está crescendo, apesar das iniciativas do nosso governo, por exemplo, de liberar geral agrotóxicos. Há um movimento crescente para fazer tudo de forma mais natural. Ao invés de pesticidas, controle biológico, que é o uso de extratos de plantas, a introdução de insetos (como a joaninha), ou o uso de microrganismos como fungos e bactérias em plantações para controlar, por assim dizer, outros organismos danosos àquela plantação. Além do advento de culturas mais voltadas para uma maior diversidade de espécies plantadas, e formas diferentes de plantá-las, como a Agrofloresta. E não só pra controlar "pragas" mas também na recuperação do solo. Sim, o solo, não a planta!

O solo é um organismo com vida, não só um espaço onde plantar os vegetais, e ele deve ser cuidado. Especialmente depois do que a monocultura e a pecuária fizeram às terras que foram desmatadas para uso. Tudo em busca da sustentabilidade! Essa é a palavra de ordem, mas não é a correta. Na crise que nos encontramos, nada mais é sustentável. Estou certa de que o que separa a população geral de uma alimentação mais rica e saudável é, principalmente o conhecimento. Existem até plantas tão adaptadas a solos pobres e falta de cuidado que, literalmente são tidas como "ervas daninhas", porém são comestíveis e nutricionalmente ricas, chamadas de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais), outras são poderosas plantas medicinais. Seu alimento é o seu remédio, ou o seu veneno. Educar-se te dá o poder da escolher qual dos dois.
 
Movimentos como os LGBTQIAP+, que é resistente, resiliente, e apesar do sofrimento e ameaças, não está mais disposto a se calar. Todas as mulheres trans e travestis, todas as artistas drags na mídia, trazendo suas palavras, falando de seu sofrimento, mas também de seus desejos, sonhos. Hoje, crianças e jovens não héteros, e especialmente os não cis, podem se ver representados. E isso tem uma enorme diferença no desenvolvimento saudável dessas pessoas, e na possibilidade de que suas vidas não sejam repeteco de tanta gente que sofreu e ficou pelo caminho, se foram muito cedo, ou morreram em vida mesmo, vivendo algo que não era sua verdade. A gente sai do armário, a gente fala a nossa verdade, a gente enaltece umas às outras, pra que mais pessoas possam ser livres e felizes, e principalmente donas de sua própria história. Então estamos aqui pra dizer que amor é amor, e que gênero é um papel social. Que nada deve ser imposto, deixa tudo ao natural.

E um movimento tão importante, o feminismo, que luta pela equidade, que é um conceito difícil de entender, e por isso a confusão com o entendimento do feminismo como algo similar ao machismo. Não! A equidade de gênero se trata de uma correção na parcialidade do que é aceitável na sociedade tanto como dever ou direito da mulher. As mulheres não estão buscando nada além do que como ser humano lhe é de direito. O feminismo não é se impor sobre os homens, inferiorizá-los. É ser igual, partir das mesmas oportunidades, sem os obstáculos que se impõem exclusivamente ao gênero feminino. 
 
A ansiedade masculina perante ao potencial feminino, sua força, é conhecido e esperado. Nesse momento, como em outros que já passaram, há uma grande aversão, principalmente dos homens que se sentem ameaçados com a possibilidade de não ter mais poder sobre as mulheres de suas vidas, sejam suas companheiras, irmãs, filhas... E pessoalmente, considero que um medo também de ficarem sozinhos, de não serem tratados como especiais, pois não sabem dividir o poder. Ou talvez medo mesmo de que aconteça a eles, o que acontece às mulheres desde os primórdios. O que mais dói é a ignorância das mulheres machistas, manipuladas em geral, por uma sociedade viciada, e/ou por homens estúpidos ou intelectualmente desonestos e corruptos. E é por isso que o feminismo é um movimento que, sinto, é guarda-chuva para as lutas de todas as minorias. Dentro dele, a luta das mulheres negras. Num país em que as pessoas têm que se descobrir negras. Não por conta da miscigenação e uma falta de racismo. Mas pelo racismo velado, pela ideia de valor de características brancas. Tão danoso num país onde ainda é tão difícil fugir dos estereótipos. Difícil acessar educação sendo de periferia, com tantos obstáculos. Daí a importância da autoestima negra, periférica, feminina desse recorte do movimento.

Eu sei que toda essa visão positiva pode ser resultado da bolha em que me encontro. Mas eu to aqui fazendo meu papel, botando a cara ao sol, levantando questões e sendo eu mesma, sem pedir licença, sem pedir desculpas. Mas sem briga, que minha maneira de viver não é de embate, é de amor e tolerância. Dou o que espero pra mim. Lembro de um pensamento que diz que quando gritamos, mesmo quando nossos corpos estão próximos, é porque nossos corações estão distantes. 
 
Quero que meu coração esteja tão próximo aos demais, que eu só precise sussurrar!

domingo, 27 de outubro de 2019

Equilíbrio

Semana passada decidi por excluir permanentemente minhas contas de Facebook e Instagram. Por motivos políticos (o mal que essas redes sociais causam à sociedade civil de vários países nos seus processos eletivos) e pela minha saúde mental, estou na busca de menos interações virtuais, e mais reais (no sentido de presencial). Até publiquei uma notinha avisando, e pedi backup de minhas publicações às plataformas. Porém, no mesmo dia já desisti e retirei a nota. Eu mal uso essas redes sociais. O que me impede de efetivamente viver essas relações mais reais, é justamente outra plataforma, tão danosa quanto às citadas, o Youtube.
Daí eu fico aqui pensando a respeito. Minha geração não cresceu com internet em casa, muito menos num aparelho móvel que não largamos por nada nesse mundo. Eu só tive contato com internet em 2004, eu tinha então 16 anos. E durante esses quinze anos, a internet foi palco de meu crescimento, eu não mais separei minha vida dela. Conheci pessoas, conheci ideias, compartilhei experiências e criações, aprendi sobre quase tudo que sei hoje através de leituras e vídeos. Aprendi inglês, e até arranho na leitura do espanhol. Descobri movimentos e pessoas, que de outra forma, não teria sabido a respeito. Ou seja, eu sei o valor que a internet tem como fonte de informação, e como chave para crescimento pessoal. Mas ao mesmo tempo, sinto que uma hora, mesmo algo que te fez tão bem, pode também te fazer muito mal. Tanto, a ponto de ser uma boa ideia apenas ficar sem completamente. E agora eu estarei falando sobre comportamentos de dependência e compulsão. Então segurem-se, e vamos lá!
Na adolescência, eu costumava trocar a noite pelo dia pra poder usar a internet. Passava a madrugada toda conversando com as pessoas (pessoas essas que conhecia pessoalmente, e com quem conversava no mundo real também) pelo MSN (programa de mensagens da Microsoft). Nessa época tinha muita curiosidade sobre religião, já que até bem pouco tempo era católica. Pesquisava sobre outras religiões, como também o catolicismo. A internet brasileira não era tão desenvolvida como hoje, e a gente ainda não tinha acesso às redes sociais. E então eu fui convidada para o Orkut (rede social similar ao que o Facebook é hoje) e a experiência de usar a internet começou a mudar. Agora tinha contato com pessoas de qualquer lugar do país, e podia procurar essas pessoas por interesse em comum, já que existiam as comunidades, que eram o equivalente aos grupos do Facebook, mas, mais parecido com um fórum de internet. Cada publicação nesse fórum ficava aberta a discussões, e você podia interagir com as pessoas alí, aprender sobre o que estava sendo debatido. Tinha de tudo! E até o Google retirá-lo do ar, haviam soluções que você não encontraria em outro lugar na internet.
O Youtube surgiu meio tímido. Uma plataforma de vídeos online. Era legal, mas sem muita utilidade prática. A internet aqui não era grandes coisas, e um vídeo precisava carregar por alguns minutos antes que pudéssemos finalmente vê-lo. A qualidade desses vídeos também não era das melhores, muitas limitações técnicas. Não era um site rentável, e permaneceu assim por algum tempo, mesmo depois de ser comprado pelo Google. Não haviam propagandas, e o Google não sabia como monetizá-lo. Tudo foi mudando gradativamente, e hoje é o que é, inclusive criando uma nova profissão: youtuber. Minha queixa com o Youtube é que, uma vez que abro o aplicativo no meu celular, entro num vórtice que me arrasta pelo resto do dia, principalmente se eu não tiver nada do curso pra fazer. Quando me dou conta estou assistindo vídeos que se você me convidasse pra ver, eu certamente recusaria. Mas estou lá, perdendo meu tempo. Perdendo experiências no mundo real. Evitando de fazer o que necessito até, pra ficar completamente hipnotizada pela telinha em minha frente. 
Não serei ingrata, o Youtube já me ajudou bastante. Acho que é a plataforma em que o conhecimento adquirido, ou consultado, foi de mais valor pra meu crescimento. Eu não seria a mesma pessoa num mundo sem ele. Mas sinto que nesse momento de minha vida, mais me segura do que me deixa crescer. É uma compulsão, eu já acordo pensando em pegar o celular e ver vídeos, quando to em casa. Não quero fazer o que preciso, não quero ficar sem fazer nada. Sem ele, preferiria dormir o dia todo. Por isso considero um vício.
Inúmeras vezes já considerei não mais usar smartphone, talvez até ter um flip, só pra convencional e velha forma de comunicação mesmo. Me sinto tão livre só de pensar na possibilidade. Mas vem também a ansiedade de não ter mais as facilidades que ter um aparelho com móvel com internet traz. Principalmente pelo uso de Whatsapp. Toda vez que trago essa ideia à tona, o Edson protesta. O Whatsapp a forma de comunicação mais fácil que temos. E eu ainda uso o aparelho para ouvir música ou audiobooks durante as viagens, pra consultar alguma coisa ou ler documentos. Além de ver avisos do curso, receber e-mails... Enfim, me seria limitante não tê-lo. Mas em casa não tenho necessidade de usá-lo. Quase não faço nada das coisas acima, e tem o computador pra poder fazer algo necessário. Mas como evitar de usá-lo apenas em casa?! Porque esse é o meu problema, o uso em casa. Quando não estou em casa, eu mal uso o aparelho. A não ser pra ver a hora, ouvir música pra não enjoar na viagem, e conferir alguma coisa, mas sempre muito rapidamente.
Pedi pro Edson me ajudar com isso. Chamar minha atenção se eu estiver vendo Youtube, esconder o celular de mim... Assim que ele começou a fazer isso, já vi que não daria certo. Eu fiquei querendo me esconder pra usar. E mesmo ele fazendo o que pedi pra me ajudar a controlar, eu ainda usei mais do que desejava. Então, resolvi que enquanto estiver em casa vou evitar de pegá-lo, e vou fazer outras coisas para não tocar no mesmo. Inclusive deixando-o descarregado durante esse período. Por isso estou aqui escrevendo essa publicação ao invés de estar redigindo o relatório que preciso. Isso aqui é fruto de frustração, principalmente com a compulsão pelo Youtube. 
Desejem-me sorte!

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Manifesto

Senti a necessidade de vir aqui dar notícia do que tem se passado. Já que tanta coisa mudou em minha vida, principalmente em minha rotina. Ainda estou no início dessa grande transformação, é verdade. Mas o impacto dessa mudança tem reverberado em todos as áreas da minha vida. Se escrevesse esse texto semana passada, quando tive crises de ansiedade que levaram a uma crise de depressão forte, quando a minha perspectiva de tudo que está acontecendo era apenas negativa, esse texto estaria em termos menos otimistas. Que bom que escrevo agora, quando estou me sentindo mais esperançosa.

Apesar de tudo que está acontecendo, a nível mundial, nacional, e mesmo local, eu me sinto esperançosa, com grande ímpeto de estudar e trabalhar para realizar o que idealizei ao decidir voltar a estudar, e esse específico curso, que foi o único curso acadêmico que me fez desejar as salas de aula. Pode ser que esteja em uma leve mania essa semana, por isso quero registrar, pra lembrar em momentos mais sombrios, o que preciso para me mover:

Lembrar de ideias maiores do que meu ego, de problemas maiores que qualquer um que eu possa ter individualmente, e de que eu tenho um papel a cumprir como parte desse mundo. Que é de fazer o meu melhor, assim como deveríamos todos, para, não só viver de forma sustentável, mas ajudar a outras pessoas, a enxergarem e também fazerem o seu melhor, para quem sabe, deixarmos um mundo mais promissor para as futuras gerações, em oposição ao que temos hoje como promessa nebulosa de um não futuro. É não esmorecer com as batalhas perdidas, com as forças contrárias à nossa luta por igualdade, liberdade e progresso real. Nunca desistindo de resistir, e despertando mais pessoas para essa realidade de que sim, nós somos responsáveis por nosso destino, e não só temos direito a um futuro melhor, como dever de não cruzarmos os braços, mas arregaçar as mangas. Pois não há movimento sem ação! Enquanto há lutas políticas por interesses econômicos de curto prazo, e para poucos, devemos continuar focados na saúde do nosso planeta, da nossa relação com ele, nossa relação uns com os outros, e consequentemente, da nossa própria saúde. E para isso, andemos bravamente na direção contrária, pensemos a longo prazo e além de nós mesmos, lutemos pelo que acreditamos, e ao longo dessa jornada, que consigamos mais agentes para essa luta, que não é violenta, que não visa perda de lado algum, que só acrescenta, e que não fecha os olhos pra ninguém! De braços dados, trabalhemos por um MUNDO MELHOR PARA TODOS (sem exceção)!

Sugestões:

Assistam ao documentário "Ser Tão Velho Cerrado"
https://www.netflix.com/br/title/81038976

Leiam o livro (livre pra download) Agroflorestando o mundo de facão a trator
https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1935293/mod_resource/content/1/agroflorestando-omundo.pdf

Leiam também Atenção Plena – Mark Williams
http://lelivros.love/book/baixar-livro-atencao-plena-mark-williams-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/ e pratiquem meditar.

Se possível, façam terapia, mesmo que achem que não precisam.

domingo, 11 de agosto de 2019

Dança

Eu deveria escrever uma poesia, pois estou frustrada, e é isso que faço quando estou frustrada e não posso/não quero falar sobre o quê. Pra quem lê esse blog (alguém lê?!), não é novidade que sofro de depressão e ansiedade, entre outros males. E a pessoa comum, não ciente de que sofre de algo similar, ou que por alguma razão do universo, realmente pode se dizer mais ou menos "normal", não faz ideia que há pessoas que sofrem, sem mesmo ter motivo. Mesmo quando tudo dá certo. Mesmo quando você não tem nada do que reclamar. E é esse o momento que estou vivendo. A maioria das pessoas que me conhece não sabem, mas eu estou fazendo Agroecologia no IFS (Êêh!), frequentando aula há alguns dias já. E desde antes da inscrição no vestibular era o que eu mais desejava esse ano. Aquela coisa toda de alinhamento dos meus planos pro futuro e tudo mais. Correndo o risco de estar me repetindo, fiz um curso com o Otávio Torrão de manejo agroflorestal, e finalmente, depois de um ano querendo, entrei para o mutirão agroflorestal organizado por pessoas maravilhosas que tive o grande prazer de conhecer por lá. Não só eles, como todo mundo que conheci ou interagi desde então, me faz sentir muito privilegiada de estar presente, de participar... Conhecer, interagir, ser ajudada e apoiada por tanta gente legal, me faz sentir muito grata. E eu espero poder retornar toda essa boa energia. Tudo que eu queria era que meu estado mental e emocional atual correspondesse a toda essa boa energia que vêm sendo depositada em mim. Eu me sinto uma farsa, tenho medo de decepcionar as pessoas, de não dar conta, de estar sendo chata e inconveniente... E eu to beeem desesperada a respeito disso. Eu converso com as pessoas, sorrio. Tento passar uma energia positiva e mostrar meu prazer de estar alí, compartilhando aquele momento com elas. E isso tudo é verdade, eu não estou fingindo nada naquele instante. Mas assim que estou só, meu peito fica pesado. Eu me arrependo das interações que mantive, das coisas que falei, não falei, fiz ou não fiz. Eu preciso de ajuda! Eu estou me sentindo tão errada, e só! Por quê?! Por que minha mente dá tantas voltas pra me sabotar?! Que Jung me ajude! Quero fazer as pazes com minha sombra, me aceitar e apenas ser quem eu supostamente devo ser. Por que esse processo precisa ser tão solitário e doloroso? Quando eu vou me dar por satisfeita?!
Justificando o título: eu não sei lidar com as pessoas. Tudo me intimida! E essa dança social, tem mais passos do que posso dar conta. Eu só queria conversar com alguém que tivesse paciência pra me ouvir, e não julgasse as sandices que saem de minha mente. Se eu não falar ou escrever, sinto que vou explodir. Sinto que esses pensamentos vão me enlouquecer. Eu deveria só me trancar num quarto e falar em voz alta por horas! Por favor, que eu tenha uma quantidade de sanidade o suficiente pra passar desse momento inicial, e tão novo pra mim. Pra que eu possa ser quem eu devo ser.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Tabular

As vezes eu sinto o impulso de escrever aqui, mas ainda sem saber exatamente o quê. Daí me vem o título na mente, como hoje, e aí tudo desenrola a partir desse momento. Vamos fazer um apanhado do que aconteceu em minha vida nos últimos dias, e que está sendo determinante de meu futuro.
As vezes noto, que mesmo alguém como eu, que não tem muita interação com outras pessoas, e mal sai de casa, tem muito o que partilhar. O meio pelo qual faço isso ultimamente é pela internet, mas teve um tempo que eu estava afastada até mesmo das redes sociais. Foi um tempo válido, como minha prima Dayanara me disse, os processos internos são tão importantes quanto os externos. Concordo! Comecei fazendo uma conta no Instagram, era só pra ter referência de poses pra poder treinar desenho, daí comecei a partilhar meus rabiscos. Voltei pro Facebook, deletei minha conta, acho que mais de uma vez. É a rede social mais problemática pra mim depois do Twitter, no qual viciei, e larguei de vez também. Muito tóxico!

De lá pra cá, meu interesse por desenho e pintura ficou meio adormecido. Mas a preocupação com meio ambiente, crueldade animal, e alimentação saudável se intensificou. Ainda se intensifica hoje, principalmente durante esse governo. Pois bem, essa mesma prima que mencionei antes, viu esses meus interesses e pensou que seria uma boa ideia me falar sobre o curso de Agroecologia do IFS, me impulsionar, não só a fazer a prova, mas a correr atrás de meus sonhos, e validar minhas experiências. Eu fiz o vestibular, passei, mas não pude me matricular por ter cometido um erro na hora do cadastro, Nesse momento, talvez ainda possa. Mas a verdade é que agora eu quero me voltar mais pra prática do que para a teoria. No último fim de semana fiz o curso de manejo de agrofloresta com o Otávio Torrão, em São Cristóvão. Conheci muita gente legal, com projetos em alinhamento com essas preocupações, fiquei fascinada com as pessoas, e também com a quantidade de conhecimento prático do curso. É muito bom ter a oportunidade de aprender algo fazendo, ao invés de ver um vídeo, ou ler a respeito.
 
Tive que fingir que acreditava que podia, e no final das contas, não é que realmente posso?!
A longo prazo tenho projetos ambiciosos de trazer esses conhecimentos para as pessoas da roça, que são quem mais precisam, e para as novas gerações, para que saibam como agir de acordo com as necessidades e desafios que, o nosso estilo de vida até aqui, lhes trouxe e trará.

Acreditar em si mesmo é difícil, mas não impossível. E comemorar cada vitória, como me falou um amigo que conheci no curso, é de extrema importância pra se manter no rumo, sem desanimar. Então isso aqui é também parte de uma celebração. A celebração de todos os privilégios, oportunidades e chances que me fizeram chegar exatamente aqui, nesse momento, e com essa vontade de devolver todo o amor, felicidade e carinho que a vida me proporciona. Que eu saiba agir de acordo. Agradeço ao cosmos, e a todas as pessoas que estiveram e estão em minha vida.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Crescendo

Estava lendo a introdução de um livro sobre veganismo, quando a história da autora me lembrou de algo que eu queria falar há muito tempo aqui no blog. De como os relacionamentos mudam porque nós mudamos. E não estou falando sobre relacionamentos afetivos não, qualquer um, até familiares. Muda a dinâmica, o engajamento...

Eu sou casada com o Edson, e posso assegurar que há sete anos atrás, quando iniciamos esse relacionamento, ele e eu éramos pessoas totalmente diferentes de quem somos hoje. A base continua a mesma, pois acho que caráter é algo inerente ao ser humano. Mas nós evoluímos e crescemos muito juntos. Nos ajustamos, não um ao outro, mas a nós mesmos. É que na realidade, o ser humano tende a contradições, e agir em desacordo com o que acredita é mais comum do que o que nos parece. E nesse processo de descobrir e corrigir falhas, que eu acredito ser um trabalho constante, nós nos ajudamos muito.

Há alguns meses eu comecei a sentir que nós não estávamos na mesma página, e o assunto era alimentação. Eu deixei de comer carne, mas ainda consumia derivados de leite e ovos, porém desejava transicionar para uma dieta livre de crueldade animal. E alguns conflitos aconteceram. Como é de se esperar, ele se preocupava com minha saúde. E tinha razão, como vegetariana eu me alimentava muito mal. Eu me garantia no consumo de ovos e queijo para qualquer refeição, ao ponto de não me importar com vegetais em geral. Comecei parando de comer ovos, e logo era queijo em todas as refeições. Eu estava triste, mal alimentada, e ainda não me sentia em paz com minha consciência. Foi quando comecei a pesquisar mais sobre veganismo, a conversar mais com ele a respeito, e a colocar algumas receitas em prática. Tudo mudou a partir daí. Edson começou a engajar com conteúdos desse tipo, e a estudar reduzir seu consumo de carnes e derivados de leite. Hoje já estamos há mais de um mês de quando tudo se iniciou, e ele ainda come ovos (daqui do sítio) e queijo que sua mãe sempre deu, e isso porque ainda não é fácil para nós, fazer queijo vegano. E também pelo receio da reação dos meus sogros com uma dieta mais restritiva do Edson. Até hoje eles não aceitam a minha. Nossas refeições nunca foram tão ricas, variadas e deliciosas, sem contar como são muito mais saudáveis do o que costumávamos comer antes. Quanto a consumo, nós tentamos comprar de acordo com o que acreditamos. Cometendo alguns erros no caminho, mas agora eu não me sinto mais angustiada, porque o tenho ao meu lado, pensando e vivendo de acordo com o que sentimos que é a forma certa de viver, estamos fazendo o nosso melhor.

A resistência inicial era mais por desconhecimento que por filosofias diferentes. E sendo assim, tudo foi resolvido com um pouco de educação a respeito. Eu não impus nada a ele, como não posso fazer a nenhuma outra pessoa. O que posso fazer é despertar interesse. Então, apenas disse minhas razões, mostrei alternativas, e ele concordou comigo. Mas eu sei que isso é um privilégio, e eu sou muito grata e feliz por tê-lo sempre ao meu lado descobrindo coisas, e tentando sermos versões melhores de nós mesmos juntos.

Acredito que seja nesse caminho que algumas pessoas se afastam, quando crescem separadas, de maneira individual, e quando há resistência e falta de interesse no processo do outro. Nós somos uma "metamorfose ambulante". Quem está ao nosso lado vai nos ver mudar, seja para melhor ou pior, julgado a partir da vivência e crescimento do outro. Para continuar relacionamentos em harmonia, nós acabamos sempre comparando nossas crenças ao do outro. Algumas questões passam, mesmo com diferenças irreconciliáveis, afinal ninguém vai terminar com os pais. Mas em geral, é assim que amigos se afastam, relacionamentos familiares são restritos a obrigações, e casais se separam. Lógico que outro zilhão de elementos podem fazer parte de decisões assim, relações humanas são muito complexas! A gente se apaixona todos os dias pela pessoa ao nosso lado. Por atos, pensamentos, cumplicidade... E se isso não acontece, vamos ficando mais distantes, e a cada dia fica mais difícil ouvir e ver o outro, e nos enxergar nele. Como conclusão posso dizer, não descuide de suas relações, e não descuide de si mesmo. Seja curioso, e se ama a pessoa, ao menos tente ouvir sobre suas paixões, e se não vai fazer mal a ninguém, experimenta. O pior que pode acontecer é você descobrir que seu lugar não é ao lado dessa pessoa. Já o melhor que pode acontecer, é você se apaixonar outra vez pela mesma pessoa.

P.s.: Se a sua, ou seu, ente querido está engajando em questões prejudiciais a outras pessoas, ou a ele mesmo, esteja atenta(o) e ao menos tente fazê-lo notar isso. Mas você não é a/o responsável por salvar ninguém. Para resolver um problema, primeiro a pessoa deve perceber e admitir que tem um. Não o abandone, mas ofereça apenas o que pode dar, sem que isso prejudique a si mesmo. Seja consciente de seus limites, e respeite-os.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Ninguém escolhe estar errado

Vivemos um momento da história que é único em muitos aspectos, mas que em outros é uma repetição de tudo que já vivenciamos como sociedade moderna. A bipolaridade política/social não é algo novo, nem na História recente da humanidade, e mesmo assim, a gente não parece entender o mal que faz quando nós calamos o outro a grito. O abismo que criamos entre nós, faz parecer que não somos mais capazes de conviver com a diferenças. Mesmo os que pedem por mais tolerância, são por vezes tão intolerantes quanto. Dá a impressão que deveríamos por bem separar o mundo, e cada um que vá pro seu lado, viver sua utopia.

Quem não gosta de ter suas ideias validadas por alguém? As palavras chegam a doer fisicamente quando se opõem aos nossos pensamentos. Mas a gente deve lembrar que ninguém simplesmente escolhe estar errado, além disso, nós pensamos estar certos em todo e qualquer momento de nossas vidas, até descobrirmos que não. Então, não deveríamos ser mais compreensivos com quem discorda da gente? Fazer parte de um diálogo com partes opositoras é como estar em uma zona de guerra em que as armas são palavras. Se o intuito é tentar fazer o outro repensar o assunto. Machucá-lo só vai fazê-lo sentir mais distante de você, e mais empenhado a também te machucar. E há tanta gente que já sofreu tanto, que não tem mais paciência para ouvir, quando o que o outro está dizendo desafia sua existência e liberdade.

Vamos partir do pressuposto de que somos todos pessoas com bons intuitos, e queremos um mundo melhor, só que por métodos diferentes. Então nos basta agora exercitar nossa empatia: se eu fosse essa outra pessoa, com as experiências que ela viveu, com as oportunidades (ou falta de) que ela teve, como seriam meus pensamentos? Talvez bem similares aos dela. E então, vamos para outro nível de empatia. O que eu quero de melhor pra mim, eu devo querer para todo mundo. Se você é alguém que deseja o melhor pra si e para as pessoas que ama, por que não estender esse desejo para todas as pessoas, independente de quem elas são? É o certo a se fazer!

Para as pessoas religiosas que porventura lerem esse texto, Jesus deixou apenas ensinamentos de amor e tolerância. Para uma vertente religiosa (a cristã) que as escrituras recentes falam tanto de amor e misericórdia, como pode ser aceitável carregar tanto ódio pelo diferente, e como pode-se desumanizar tanto o outro? Jesus não foi o homem que defendeu uma mulher que seria morta à pedradas por ser supostamente adultera? E não foi ele que perdoou seu próprio discípulo que o traiu? Não foi ele que perdoou o ladrão crucificado com ele? Que perdoou seus executores? Quem você é então, diante de uma figura tão poderosa de sua religião, para condenar quem quer que seja?!

Presa em realidades alternativas

Hoje eu não tive um dia ruim. Tudo continua ok. Nada de particularmente errado ou ruim acontecendo no meu mundo, mas eu estava naquele lugar. Quando eu falo "estou naquele lugar" significa que não consigo me livrar de pensamentos ruins que vêm sem nenhum convite, e permanecem por pura teimosia. Em momentos assim você se sente incapaz em muitos sentidos. Mas em geral, incapaz de ser feliz. Viver dá muito trabalho! Quem me conhece sabe que não tenho porque ter esses pensamentos. Minha vida é muito boa, e a vida e as pessoas nela, sempre foram muito gentis comigo. Eu não sofri muito enquanto crescia. A única coisa que posso realmente "reclamar" que sofri foi um péssimo relacionamento com minha mãe, que durou enquanto ela viveu, e claro, como sou mulher, assédio desde que me entendo como gente.

Já tentei inúmeras vezes criar fórmulas pra sair desse estado mental. Anotei até um checklist para dias assim. Que nunca mais olhei desde que escrevi. O fato é que em dias como hoje, eu não lembro, nem chego a pensar em condutas que possam me tirar dessa zona sombria. Ao menos é o que sempre acontece comigo. Eu esqueço completamente de todas as minhas resoluções para uma vida mais plena. E se encontro qualquer dificuldade nesse dia, por menor que seja, a vontade é de deitar no chão e esquecer como respirar. É até estúpido dizer isso pra alguém que talvez nunca tenha passado por isso. E que, pior, tenha reais dificuldades em sua vida, e leve a vida normalmente, como um ser humano médio deveria ser. Mas todos temos as nossas lutas. E a gente não pode esquecer disso.

Eu costumava pensar que só eu tinha esses sentimentos. Quando a gente sofre, sempre se coloca num estado de solidão. Mas se a gente olhar ao nosso redor, vai notar muita gente lutando as mesmas batalhas sozinhos. Eu tenho vários problemas com meu ego. Um deles é achar que posso consertar o mundo, quando não consigo nem cuidar de mim mesma. Quando eu me nego, ou não consigo mesmo, ajudar alguém que amo, ou qualquer pessoa do qual o sofrimento eu tenho conhecimento. Ou pior ainda, quando penso, muito egocentricamente, que de qualquer forma incomodei, desapontei ou prejudiquei alguém. Bem, é nesse momento que é mais fácil cair nessa espiral. E não precisa ser nada grave.

A parte positiva de envelhecer, e já ter passado por isso tantas vezes, é saber que passa. Tudo passa,  até momentos ruins. Na perspectiva de alguém que já viveu um pouquinho, eu sei que nem tudo tem a importância que a gente costuma dar. E que com o tempo, outras coisas vão importar muito mais. Aquilo com o qual a gente se preocupa hoje, não será nem uma fração de memória em nossa mente no futuro. Olhar pra trás é se compadecer com o eu do passado e pensar em todos os momentos que deixamos de viver porque estávamos pré-ocupados. Minha esperança é aplicar esse conhecimento em meu benefício sempre que possível, sempre que eu consigo notar esses padrões, e me tirar dessas situações, cada vez mais rápido.

Não, eu não sou uma pessoa ruim, nem sem valor. Sim, eu posso ser feliz, e sim eu mereço amor! Você que estiver lendo isso, é tão merecedor de amor, como qualquer outro ser nesse planeta. Comece por você mesmo. Ame-se!

sexta-feira, 29 de março de 2019

O que realmente é uma Utopia?

Meses atrás (mais parecem anos), eu me deparei com um conceito muito interessante, que me convenceu completamente à época. Eu estava assistindo TED Talks no Youtube, quando me deparei com a palestra de um jovem historiador holandês, Rutger Bregman. Ele estava divulgando seu livro "Utopia Para Realistas" que discorre sobre três ideias, que apesar de radicais, não são nada novas. São elas: Open Boards, fronteiras abertas, Jornada de trabalho de 15 horas semanais, e a mais popular, UBI, do inglês Universal Basic Income (traduzindo grosseiramente seria algo como renda básica universal), e é nisso que iremos nos concentrar nesse texto.

A primeira vez que você ouve falar dessa ideia, ela parece absurda. Pois consiste em simplesmente dar uma quantidade de dinheiro a todo mundo, das pessoas que não tem dinheiro algum, até o milionário, e a mesma quantidade, por isso o universal. E isso, sem que elas tenham feito nada para receber esse dinheiro. Sem que necessitem de qualquer condição para esse benefício. A primeira coisa que podemos pensar é: as pessoas vão se tornar batatas de sofá e vão gastar todo o dinheiro com drogas e coisas fúteis e autodestrutivas. Pois Bem, a isso Bregman nos lembra que nós temos uma tendência cada vez mais acentuada de esperar o pior do ser humano. Afinal de contas, tantos exemplos nos noticiários são a prova disso, não? Prepare-se para admitir que você pode estar vendo o mundo por lentes muito pessimistas. Porque a verdade é que os noticiários nos mostram são as exceções, não a regra. São recortes do mundo, que funcionam de forma oposta ao Instagram por exemplo. E eles servem um propósito, o de nos informar sobre algo que não está funcionando como deveria, algo que está fora da curva da normalidade, certo?! Por que iriam reportar o ordinário?! O normal não é notícia, é norma, é o esperado. Pois bem, tendo deixado isso claro, há inúmeras evidências positivas advindas de experimentos com UBI dos anos 1960s até hoje. Inclusive, os Estados Unidos iriam implementar isso nos anos 1970s, enquanto Nixon era presidente. Era uma ideia bem aceita, até pelos conservadores, e tinha-se como quase certa. Tanto, que os democratas foram os responsáveis pela sua não aprovação no senado. Eles eram contra? Não, em absoluto! Apenas achavam que o valor poderia ser mais alto. Então fez-se um experimento em Seattle, e a conclusão foi bastante positiva, porém com um resultado preocupante, um aumento no número de divórcios durante o experimento. Você pode pensar que faz todo sentido, já que muitas mulheres tendo sua independência financeira, poderiam repensar seus relacionamentos, certo? Bem, foi isso que os conservadores da época pensaram, e a ideia foi morta por lá. Porém, dez anos depois foi descoberto que foi cometido um erro na análise desses dados, e o número de divórcio não aumentou. Mas já era tarde, e uma onda conservadora havia dominado a cena política mundial, quase como o momento que vivemos agora.

Mas o que exatamente significa uma renda básica universal? Bem, significa não ter que se preocupar com o básico necessário para sobreviver. Com saúde e educação garantidos pelo estado, seriam coisas como alimentação, abrigo, vestimenta... O motivo pelo qual muitos de nós nos vemos obrigados a trabalhar em empregos que não gostamos, empregos que não acrescentam em nossa vida, e que não contribuem para um mundo melhor. Seria uma quantidade de dinheiro suficiente para que ficássemos, apenas com ele, acima da linha de pobreza. Então isso seria variável de país para país. Tendo falado nisso, certamente você imaginou: ninguém iria querer ser gari, por exemplo. Então, aí está mais um pensamento errado. Muitos trabalhos extremamente necessários são mal vistos socialmente, ou até reconhecido de certa forma, mas muito mal valorizados. Quer exemplo? Professores, enfermeiros, e os próprios garis. Bregman então nos conta sobre uma greve dos coletores de lixo de Nova York em 1968. Essa greve durou apenas seis dias, mas foi o suficiente devastadora para que a cidade declarasse estado de emergência, e cedesse às exigências dos grevistas. E então o que ele tem a dizer a respeito desse tipo de emprego é que com o UBI, pessoas que trabalham nessas áreas necessárias teriam poder de barganha para negociar seus salários, e assim teriam finalmente sua importância reconhecida e valorizada.

Quem então financiaria algo como isso? Bem, impostos é claro! Daí você diz, mas os ricos também não receberiam? Sim, mas eles receberiam um e pagariam o equivalente à riqueza que possuísse em retorno. Isso sim é redistribuição de renda! Hoje os países em desenvolvimento, e até os desenvolvidos, ONGs, Instituições de caridade, todos tentam remediar os efeitos da pobreza pelo mundo. Com programas governamentais de assistencialismo, como o nosso bolsa família, e inúmeros projetos que focam em algum dos sintomas da pobreza, tanto por parte do governo como por organizações não governamentais. Mas qual é a causa definitiva da pobreza? A falta de dinheiro! Isso é o que define ser pobre. Gastar todo esse dinheiro com assistencialismo, ao invés de "curar" a causa da necessidade dessas ajudas, não faz o menor sentido. No meio do caminho, muito dinheiro é perdido, por corrupção de políticos, de instituições, ou altos custos de salários das pessoas a frente dessas organizações de caridade, ou de recursos necessários para a implementação desses projetos, que geralmente acontece de forma bastante vertical, digo, um país desenvolvido levando pessoas e auxílio para países em necessidade. Muitas vezes, com total ignorância a respeito da cultura e das necessidades locais. O paternalismo perpetuando algo que de outra forma, e até com menos dinheiro, seria extinguido.

E esse dinheiro voltaria para aquecer a economia. Afinal, o que você faria com uma renda fixa e garantida a mais no seu mês? Certamente você está pensando que compraria livros, viajaria, faria cursos, se alimentaria melhor, seria voluntário em alguma causa, faria investimentos que facilitassem sua vida, começaria um negócio próprio... Enfim, empregaria esse dinheiro no seu crescimento pessoal. Bem, ao menos é nisso que eu penso, e imagino que sejam desejos comuns. Nesse justo momento eu me vejo lamentando falta de recurso para exatamente essas coisas. E quem melhor do que você mesmo para entender suas necessidades, e saber como gastar seu dinheiro?! Aí está o problema do paternalismo do governo ou dos mais ricos e caridosos. Eles pensam que o pobre não deve ter a liberdade de gastar o dinheiro que estão dispostos a destinar a esses, com o que quiser. Porque eles (governo e pessoas ricas), é que sabem melhor do que o pobre precisa. Entende agora o quanto isso é absurdo?! Além do mais, você teria a incrível liberdade de trabalhar com o que desejasse, o que te inspirasse de verdade. Não mais trabalhos sem sentido! Dessa forma, o UBI é um investimento, não uma ajuda. Seria incondicional, então ninguém precisaria provar quão pobre ou incapaz é para ter acesso. É o empoderamento, principalmente daqueles que não tem poder, o poder de se manter. A real solução num país endividado como o nosso. Quando as pessoas se empoderam, elas crescem. Elas não se vêm como um problema, e tendem a buscar soluções para os problemas em suas vidas, e na vida de sua comunidade.

Em suas palestras, Bregman fala sobre bullshit jobs (algo como trabalho sem sentido, sem significado), ele brinca que é um termo acadêmico, que foi cunhado pelo antrópologo David Graeber na sua dissertação "On the Phenomenon of Bullshit Jobs: A Work Rant". Quando o trabalho que a pessoa realiza é percebido, geralmente pela própria pessoa, como insignificante, sem sentido. No mundo contemporâneo e corporativista isso é cada vez mais verdade para muitas pessoas. Pesquisas apontam para números como 40% das pessoas entendendo seus respectivos empregos como desnecessários. Isso é grave! Muitas dessas pessoas estudaram por anos, tem currículos incríveis, e se vêm o dia inteiro sentados numa sala, na frente de um computador, como o próprio Bregman diz, escrevendo e-mails pra pessoas que não gostam, e relatórios que ninguém lerá. Ou seja, desperdiçando seus verdadeiros potenciais. Como a infame frase que o cientista de dados Jeffrey Hammerbacher disse certa vez numa entrevista "As maiores mentes da minha geração estão ocupadas pensando em como fazer as pessoas clicarem em anúncios". Sentiu o drama?! Você já parou pra pensar o quanto gera de faturamento para empresas que vivem de anúncios e comércio de dados, como Google e Facebook? Com bilhões de usuários mundo afora, essas companhias usam nossos dados, que entregamos voluntariamente, para nos bombardear com anúncios feitos especialmente para o público alvo ao qual pertencemos. É a nossa parcela por usar seus serviços "grátis". Mas quão gratuitos eles são realmente? E o que exatamente servem ao mundo, além do aumento do consumismo? Acabamos com nossos bolsos, e nós mesmos, cada vez mais vazios, enquanto nos rodeamos de produtos que não precisamos, para impressionar pessoas das quais não gostamos, como diz o Bregman em suas palestras.

Então por que é tão difícil tornar essa ideia realidade? Bem, além do pré conceito geral de que nós humanos somos aproveitadores inerentes, talvez a burocracia política. Veja bem, em muitas partes do mundo as pessoas dizem se importar com os pobres, afinal, se você não se importa, você não tem coração. Mas a verdade é que os políticos usam a pobreza como plataforma em suas campanhas. E em muitos lugares, a ignorância, que é um dos resultados da falta de recurso para conseguir, e até desejar, informações confiáveis, é uma vantagem na política partidária. E os ricos usam os pobres para se sentirem bem consigo mesmos, e até para se engrandecer perante seus semelhantes. Então por que acabar com algo que lhe serve como ferramenta? Junte a isso o paternalismo e receio de grandes mudanças, é claro. Creio que essas, entre outras coisas que me fogem no momento.

Por fim, Bregman sempre bate na tecla de que utopias são só ideias que parecem muito fora da caixinha no momento. Mas que eventualmente elas se tornam realidade. Como o fim da escravidão nas Américas, a democracia, e a independência feminina (ainda em andamento) no mundo ocidental. Acredito que essas ideias devem acontecer, espero que num futuro próximo, e de forma gradual. Nós vivemos num mundo mais rico hoje do que em qualquer momento da História. Seria perfeito ver essa riqueza traduzida em abundância, deixando pra trás a escassez que assola boa parte do mundo ainda hoje.

Sobre a quase implementação do UBI nos Estados Unidos.
https://thecorrespondent.com/4503/the-bizarre-tale-of-president-nixon-and-his-basic-income-bill/173117835-c34d6145

On the Phenomenon of Bullshit Jobs: A Work Rant by David Graeber
https://strikemag.org/bullshit-jobs/


Quanto dinheiro o Facebook ganha com você (e como isso acontece) (matéria de 2016)
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-37898626

Palestras e entrevistas com Bregman

https://www.youtube.com/watch?v=3x2vh5eMjGI

https://www.youtube.com/watch?v=5r3kpyp0qs0

https://www.youtube.com/watch?v=QbTWxFwuQtM

https://www.youtube.com/watch?v=ydKcaIE6O1k

https://www.youtube.com/watch?v=aIL_Y9g7Tg0



quarta-feira, 27 de março de 2019

Movimento instrumental

Vivemos um momento da história rico em possibilidades de mudança. Mudanças são importantes e necessárias. Afinal, "água parada cria limo", no máximo mosquito da dengue, certo? Ou seja, nada de positivo vem da estagnação. E isso é lógico porque há um movimento que deve nos guiar. Como água que segue até o mar, nós passamos por vários lugares diferentes, situações diferentes, estados diferentes. Mesmo que você passe no mesmo lugar duas vezes, algo vai ser diferente da segunda vez. 

Você é uma pessoa diferente todos os dias, as células no seu corpo gradativamente se multiplicam e morrem, com intervalos diferentes pra cada sistema. Em apenas cinco dias você tem todas as células do estômago e intestino renovadas, e em 10 anos, o ciclo de renovação das células do seu esqueleto se completa. Mas todo dia há em você fins e inícios de vida de uma infinidade de células - e até de outros seres, como as bactérias e fungos que nos colonizam e tornam possível nossa vida. Então por que achar que nossa vida será sempre a mesma? Que nossos pensamentos são imutáveis? 

O que torna a vida viável é o movimento, seja de átomos ou de nossos corpos. Iniciando com movimentos pequenos que vão viabilizando movimentos cada vez maiores. Quando aprendemos a andar: um pezinho na frente do outro, não estamos pensando em correr maratonas. Mas um dia isso se torna possível para a maioria de nós. Na natureza tudo se move, mesmo quando seu movimento não nos é óbvio inicialmente, como nas plantas por exemplo. Elas se movem em busca do sol, ou até em resposta a estímulos mecânicos. E como qualquer outro ser, elas crescem, e expandem seu território. Devagar e sempre.

Não somos um projeto acabado, estamos em constante evolução. Nos movemos em direção a alguma coisa. E a jornada é mais importante do que a chegada. No caminho é que temos a felicidade, não necessariamente no nosso objetivo. Com isso em mente, não se prenda ao que você pensou que era hoje quando acordou. Você está em constante mudança, recrie-se! 

Seja curioso, se interesse pela vida, pelo outro, por você. Não tente fazer o outro te amar, ame-o, ame-se, sem querer em troca, só se dar. 


segunda-feira, 11 de março de 2019

Seja seu melhor melhor amigo

Hoje eu acordei me sentindo abatida, sem vontade de fazer nada, sabe? Fui fazer xixi, com a bexiga doendo de segurar por tantas horas enquanto dormia. E apesar de já ser quase hora do despertador tocar, resolvi ficar em silêncio pra não acordar o Edson, mas não voltei pra cama. Ao invés disso, peguei meu celular reserva, um velho Windowsphone de guerra, idêntico ao primeiro celular novo que possui na vida, mas que não é o meu, e sim de um amigo que foi gentil ao emprestá-lo quando precisamos. Com o celular em mãos, abri o navegador e acessei o YouTube. Um vídeo aleatório de coisas zero waste (posso traduzir de forma grosseira para "zero lixo", mas não é um bom nome pro movimento, pois é quase virtualmente impossível não gerar lixo algum) que uma garota randômica achava que não fazia sentido gastar dinheiro com. E usar o YouTube pra fugir de minhas tarefas foi tudo o que fiz pelo resto do dia. A única pausa que tirei, até Edson chegar tardiamente do trabalho, foi para colocar água pra todos os bichos. Essa maratona de vídeos que foram basicamente besteirol atrás de besteirol, e me acompanharam durante meus afazeres mundanos, como cozinhar e comer... culminou nos vídeos de uma moça americana falando em como sobreviver aos 20s, e já era noite.

Eu, que já tenho mais de trinta, me vi impelida - provavelmente por conta da foto na miniatura, dessa garota com olhos estranhamente enormes e lindos - não correspondente a realidade, inclusive - a clicar "só mais essa vez", e assim assisti um vídeo de mais de vinte minutos dela falando sobre problemas bem reais pra mim, nos meus trinta e um anos. E provavelmente, reais pra você que está me lendo também. Essa garota maravilhosa, que provavelmente tem vinte e poucos, e mora nos Estados Unidos, parece comigo, por quê? Será que todos sofremos das mesmas aflições nesse mundo contemporâneo? Hummm! Daí lembrei que tinha prometido publicar um texto aqui como segunda parte da ideia que eu estava desenvolvendo da última vez que postei. Seria algo que trataria basicamente do que ela falava. Mas de quando escrevi aquele texto para agora, eu já tenho novas ideias de como lidar com esse "problema", ou melhor: conjunto de problemas.

Primeiro, seja seu melhor melhor amigo, isso mesmo! Se você tem um (ou mais de um) melhor amigo você vai entender o que quero dizer. Seu melhor amigo vai te falar sempre a verdade, mas não vai te bater com ela. Vai querer sempre o melhor pra você, e celebrar quando você conseguir realizar o que queira. Não vai te deixar, por exemplo, desperdiçar seu dia, como fiz hoje. Tenho tentado ser essa pessoa pra mim, mas há dias em que eu vou falhar, como hoje, e tá tudo bem também. A gente não consegue ser o melhor que pode todos os dias. O que a gente não deve é se conformar com isso.

Eu tenho lido bastantes livros sobre self-improvement (desenvolvimento pessoal), vários de psicologia da força de vontade, procrastinação, hábitos, e até alguns de auto-ajuda, que são ruins, como livro, mas que deu pra pescar alguma coisa de boa. Como essa ideia de "seja seu melhor amigo" que vem de um livro de um cirurgião estético que morreu nos anos 70s. Apesar dos estudos citados nos livros de divulgação científica, serem quase sempre os mesmos, a perspectiva dos livros sobre os mesmos estudos, é diferente pra cada um. Agora eu estou, teoricamente, munida de estratégias para manejar certos hábitos ruins, na criação de novos, assim domando a procrastinação e finalmente fazendo o que descobri que é minha meta: ser uma pessoa melhor e fazer o meu melhor para as pessoas que amo e o meio onde vivo.

Então, o que exatamente faz com que eu passe um dia inteiro desperdiçando meu tempo?! Logo tempo, que é o recurso mais escasso que seres como nós, humanos, temos? Não me falta vontade, mas sobram hábitos ruins. E agora eu sei que não é porque eu não quero. Mas dificilmente eu conseguirei me livrar de todos, ou da maioria deles, porque é difícil mesmo. Pense em maus hábitos, como procrastinar, por exemplo, como um vício. E é um vício! Você tem o sistema de três partes: gatilho, ação e recompensa. Pense nas vezes que você precisou fazer algo, como um trabalho de escola, você ignorou isso para, sei lá, ver seu youtuber favorito, assistir stories e mais stories de pessoas que segue no Instagram, ou ficar na aba de "descobertas" desse aplicativo. Isso dá prazer, claramente, mas é vazio. Você não está realizando nada, só fugindo do que precisa fazer. Esse "prazer" de deixar algo pra depois, se enganado ao pensar: agora eu não to afim, mas mais tarde eu irei - bem, esse prazer é momentâneo e falso. Vem carregado de culpa, e te deixa mais e mais infeliz, se acumula, assim como suas tarefas ignoradas. É como eu sempre digo: fazer a coisa certa, é sempre o mais difícil!

Então, notando que eu não conseguirei me forçar a nada. Vou tentar uma estratégia que parece funcionar muito bem, que é: encontre um parceiro. Uma pessoa que possa te cobrar suas resoluções, e que ela mesma esteja vivendo situação semelhante, e também esteja nesse processo de desenvolvimento pessoal (no meu caso). Mas pode ser qualquer coisa, como alguém pra ser seu companheiro(a) de corrida, de academia, de leitura de livros, de alimentação saudável... E se você tiver a oportunidade de fazer isso em grupo, ainda melhor! O fato é que é muito fácil quebrar promessas feitas a si mesmo, mas é mais difícil quando tem outra(s) pessoas esperando algo de você, te apoiando, e precisando também do seu apoio.

Então, vamos lá para o que é necessário:
  •  Um companheiro(a) ou grupo de pessoas que estejam na mesma vibe (basicamente pessoas com ideias e desejos similares aos seus);
  • Metas claras. Anote-as. De preferência algo realista, e com prazo - realista também, por favor!
  • Plano de ação. E quanto mais detalhado melhor. Quebre seu objetivo em várias etapas, e antecipe qualquer intervenção que possa acontecer no caminho. Tenha planos backup (reserva) para esses imprevistos. Anote tudo! Seja no papel, no celular, num arquivo do Word, mas anote;
  • Por fim, foco! Não seja ambicioso, se você tentar mudar tudo ao mesmo tempo, o que vai acontecer é que vai ficar muito mais fácil cansar disso muito rápido e chutar o balde. Se vai mudar alguma coisa em sua vida, comece pequeno e mantenha-se concentrado em fazer aquilo se realizar. O que a ciência descobriu é que, em geral, a criação de um bom hábito, como se exercitar ou controlar as finanças (um ou outro por vez, ok?), tem o poder de reverberar pra todas as áreas de sua vida, de forma natural. Não é lindo?!
Se você quiser fazer sua própria pesquisa, o que recomendo fortemente. Afinal é sempre bom procurar melhorar a si mesmo. Os livros que li, ou estou lendo sobre o assunto são:

  • Força de Vontade - Roy Baumeister e John Tierney;
  • O poder do hábito - Charles Duhigg (ainda não terminei, mas é um ótimo livro); 
  • Solving The Procrastination Puzzle Audiobook - Timothy A. Pychyl (infelizmente não tem versão em português, até onde sei. Mas é muito bom e curtinho);

E os de auto-ajuda que tentei ler, mas não rolou pra mim. Mas talvez seja mais a sua praia:


  • O milagre da manhã, de Hal Elrod;
  • Como Vencer os Sentimentos Negativos - Maxwell Maltz (esse é dos anos 60s); 
Além de claro, inúmeros vídeos, artigos e matérias na internet que falam a respeito desses assuntos. Escolha o que mais te convém, e seja feliz!

O vídeo que me fez publicar esse texto:

https://www.youtube.com/watch?v=tWHVqFKC5og

Recomendo também o canal da Jout Jout Prazer, muito bom! 

https://www.youtube.com/user/joutjoutprazer




 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O ser humano em suspensão

Partindo do princípio de que não há verdade absoluta sob esse céu, eu estou aqui pra partilhar minhas recentes descobertas na área de autoconhecimento, e no entendimento do nosso papel no mundo, ou seja, do que é afinal ser humano. Digo de antemão que é só um arranhãozinho na superfície de algo muito profundo, e que ainda que eu vivesse mil anos estudando incessantemente, mesmo assim, não arriscaria dizer que finalmente conheço tudo a respeito desse assunto, ou mesmo que o que descobri é a verdade.

Até bem pouco tempo, como devem saber os que não estão me lendo pela primeira vez, ou os que me conhecem, eu me mantinha isolada do mundo, numa posição confortável de evitar até mesmo as redes sociais. Não me arrependo desse hiato de presença virtual, pois esse tempo longe das mídias sociais foi bastante importante para uma melhor perspectiva a respeito do que a internet, e os meios pelos quais interagimos dentro dela, significam. Me sentir uma outsider (alguém de fora) nessa conjuntura, me ajuda, por vezes, a ter uma visão mais prática e realista dessas ferramentas. Menos glamourosa ou demonizada.

Agora, já há um tempo usando, confesso que até abusando de tempos em tempos, desses meios de interação, até devido a resistência de me comunicar com as pessoas no mundo real. Noto nos outros o que pensava era farto em mim, e que era um defeito meu, o que me fazia completamente infeliz e sem esperança de um futuro mais otimista no horizonte. Boa parte de nós (ao menos na minha constatação, que pode estar enviesada, pode ser contaminada pelas bolhas sociais e/ou pela necessidade de me ver nos outros) sente um vazio. Muitos não sabemos o que realmente queremos na vida, e da vida. Quase todo mundo fantasia com fugas para uma existência completamente diferente da sua. Uma escapatória aos doces vícios aos quais nos habituamos, e que parece, não nos deixarão mais em paz. Estaríamos doentes como indivíduos ou como seres sociais?

Nos ocupamos admirando (podemos ler também: invejando) recortes de vidas, que estão perfeitamente emoldurados para nosso entretenimento, com intuitos muitas vezes escusos. Amamos ou odiamos pessoas baseados no que essas pessoas deixam que vejamos delas. Por isso tanta decepção, e pior, tanta amenização de questões problemáticas, dependendo de se quem está no holofote é uma celebridade ou algum fulano da vida. Nos preocupamos em estar sempre certos sobre questões atuais, e defendemos nossos pontos com unhas e dentes em detrimento de qualquer respeito ao direito do próximo de discordar da gente. E fazemos questão de não ouví-lo, gritando cada vez mais alto, e mostrando nossa 'superior capacidade de raciocínio lógico e retórica'. Assim, afastando qualquer possibilidade de entender o ponto do outro, e de conseguir ser ouvido. Já que o maior ponto de conflito têm sido a política (partidária ou não), falo para aqueles que não sabem ou esqueceram: política não consiste em vencer e impor sua vontade ao outro, e sim negociar e chegar a um meio-termo, comprometendo o desejo dos dois (ou mais) lados envolvidos nessa negociação. Compromisso, nesse caso, significa que todas as partes envolvidas sairão sem estar completamente satisfeitos, mas ninguém deixará de ser ouvido e atendido em algo do qual não abre mão. Então, o que você não abre mão? E o quanto isso é importante pra você a ponto de te afastar de alguém querido? Se sua resposta for movida por paixão, ou ódio, há de ter cuidado para não estar escolhendo lado errado, e ainda mais desagradável, as batalhas erradas.

Toda essa ocupação mental nos deixa exaustos. Por milhares de anos, os humanos viveram uma vida muito pacata. Mesmo as pessoas mais influentes e famosas, não conheciam mais de algumas dezenas de pessoas em sua existência. Não tinham tantos eventos acontecendo na sua vida, e no mundo (do qual tinham conhecimento) ao seu redor. Se ocupavam em cuidar, além de si, das pessoas que amavam, e do lugar onde viviam. Eu tenho trinta e um anos, e parte da minha vida foi assim. Mas a internet ampliou nossos horizontes, expandiu nossas possibilidades, de uma forma sem precedentes, e em questão de poucos anos. E isso é especialmente verdade num país como o Brasil, que o acesso a internet e aparelhos como smartphones, se tornou algo comum e mais facilitado recentemente. Nada disso é necessariamente ruim, dependendo do que fazemos com isso, e de como nos colocamos perante a esse infinito de informações e cenários possíveis de interação. Mas, toda mudança muito drástica do modo de viver, individual ou coletivo, como nesse caso, sem que tenhamos sido preparados para isso, pode ser muito danoso. As regras, costumes e etiquetas desse novo universo ainda estão sendo criadas, testadas, quebradas, e em tempo real. Algo inerente à sua própria natureza, camaleônica e subversiva. Aos poucos nos damos conta de que o mundo virtual é uma extensão desse, e não está à parte dele, portanto deve obedecer às mesmas regras éticas. Mas é esse viver tão acelerado, onde temos que estar prontos para emitir opinião instantânea, ou à ação imediata, sem parar pra investigar, meditar, digerir... Isso faz com que tenhamos a impressão que não temos tempo para nada. Quando perdemos tanto tempo com questões banais e desnecessárias, nos impedindo de olhar pra dentro, e de perceber o impacto que nossas vidas geram em outras vidas. Como nosso modo de viver determina o presente e futuro das pessoas que amamos e afeta o lugar em que vivemos.

A boa notícia, é que nós podemos ter um bom convívio com as pessoas, inclusive por meio da internet, e de forma utilitária, não vazia. Ao mesmo tempo que não precisamos nos orientar pela bússola do próximo. Ou seja, não precisamos ser tão rico, tão bonito, tão viajado, tão feliz, quanto o outro, nosso modelo, nos parece. Não há perfeição! E você não deveria estar lendo essa afirmação aqui para entender isso, é senso comum. Então por que continuar infeliz procurando por isso?
Busque o que é especial pra você, o que dá sentido a sua existência. Mas que nunca seja para agradar a terceiros. Que seja para que você sinta orgulho de si, mesmo que ninguém, além de você, saiba o que é, e conheça suas realizações. Essa motivação é a real! Sem barganhar por atenção. Sem se medir pela régua de outras pessoas, pois cada um tem a sua.

Por fim, maus hábitos são extremamente difíceis de serem combatidos, eu sei. Luto todos os dias contra os meus, perdendo miseravelmente quase sem notar. Por isso, penso que a estratégia mais válida, é introduzir bons hábitos, talvez até opostos aos seus maus hábitos, em sua rotina. Algo que acrescente à sua vida, ou de seus entes queridos, da sua comunidade. Se doe um pouco ou defenda algo em que acredita. Mas de forma a inspirar amor e esperança, nunca ódio e medo. Se para defender algo você precisa gerar ódio ou medo nas pessoas, ou a causa não é justa, ou você está fazendo do jeito errado.

*Esse texto será dividido em duas partes. Aqui apresento como que uma lista de sintomas num esboço rápido do que estamos vivenciando, além de formas de conviver com esses sintomas. E no próximo, pretendo investigar como chegamos a esse ponto, e o que podemos fazer para reverter esse quadro, e uma olhadinha na minha experiência e planos para melhorar.