domingo, 27 de outubro de 2019

Equilíbrio

Semana passada decidi por excluir permanentemente minhas contas de Facebook e Instagram. Por motivos políticos (o mal que essas redes sociais causam à sociedade civil de vários países nos seus processos eletivos) e pela minha saúde mental, estou na busca de menos interações virtuais, e mais reais (no sentido de presencial). Até publiquei uma notinha avisando, e pedi backup de minhas publicações às plataformas. Porém, no mesmo dia já desisti e retirei a nota. Eu mal uso essas redes sociais. O que me impede de efetivamente viver essas relações mais reais, é justamente outra plataforma, tão danosa quanto às citadas, o Youtube.
Daí eu fico aqui pensando a respeito. Minha geração não cresceu com internet em casa, muito menos num aparelho móvel que não largamos por nada nesse mundo. Eu só tive contato com internet em 2004, eu tinha então 16 anos. E durante esses quinze anos, a internet foi palco de meu crescimento, eu não mais separei minha vida dela. Conheci pessoas, conheci ideias, compartilhei experiências e criações, aprendi sobre quase tudo que sei hoje através de leituras e vídeos. Aprendi inglês, e até arranho na leitura do espanhol. Descobri movimentos e pessoas, que de outra forma, não teria sabido a respeito. Ou seja, eu sei o valor que a internet tem como fonte de informação, e como chave para crescimento pessoal. Mas ao mesmo tempo, sinto que uma hora, mesmo algo que te fez tão bem, pode também te fazer muito mal. Tanto, a ponto de ser uma boa ideia apenas ficar sem completamente. E agora eu estarei falando sobre comportamentos de dependência e compulsão. Então segurem-se, e vamos lá!
Na adolescência, eu costumava trocar a noite pelo dia pra poder usar a internet. Passava a madrugada toda conversando com as pessoas (pessoas essas que conhecia pessoalmente, e com quem conversava no mundo real também) pelo MSN (programa de mensagens da Microsoft). Nessa época tinha muita curiosidade sobre religião, já que até bem pouco tempo era católica. Pesquisava sobre outras religiões, como também o catolicismo. A internet brasileira não era tão desenvolvida como hoje, e a gente ainda não tinha acesso às redes sociais. E então eu fui convidada para o Orkut (rede social similar ao que o Facebook é hoje) e a experiência de usar a internet começou a mudar. Agora tinha contato com pessoas de qualquer lugar do país, e podia procurar essas pessoas por interesse em comum, já que existiam as comunidades, que eram o equivalente aos grupos do Facebook, mas, mais parecido com um fórum de internet. Cada publicação nesse fórum ficava aberta a discussões, e você podia interagir com as pessoas alí, aprender sobre o que estava sendo debatido. Tinha de tudo! E até o Google retirá-lo do ar, haviam soluções que você não encontraria em outro lugar na internet.
O Youtube surgiu meio tímido. Uma plataforma de vídeos online. Era legal, mas sem muita utilidade prática. A internet aqui não era grandes coisas, e um vídeo precisava carregar por alguns minutos antes que pudéssemos finalmente vê-lo. A qualidade desses vídeos também não era das melhores, muitas limitações técnicas. Não era um site rentável, e permaneceu assim por algum tempo, mesmo depois de ser comprado pelo Google. Não haviam propagandas, e o Google não sabia como monetizá-lo. Tudo foi mudando gradativamente, e hoje é o que é, inclusive criando uma nova profissão: youtuber. Minha queixa com o Youtube é que, uma vez que abro o aplicativo no meu celular, entro num vórtice que me arrasta pelo resto do dia, principalmente se eu não tiver nada do curso pra fazer. Quando me dou conta estou assistindo vídeos que se você me convidasse pra ver, eu certamente recusaria. Mas estou lá, perdendo meu tempo. Perdendo experiências no mundo real. Evitando de fazer o que necessito até, pra ficar completamente hipnotizada pela telinha em minha frente. 
Não serei ingrata, o Youtube já me ajudou bastante. Acho que é a plataforma em que o conhecimento adquirido, ou consultado, foi de mais valor pra meu crescimento. Eu não seria a mesma pessoa num mundo sem ele. Mas sinto que nesse momento de minha vida, mais me segura do que me deixa crescer. É uma compulsão, eu já acordo pensando em pegar o celular e ver vídeos, quando to em casa. Não quero fazer o que preciso, não quero ficar sem fazer nada. Sem ele, preferiria dormir o dia todo. Por isso considero um vício.
Inúmeras vezes já considerei não mais usar smartphone, talvez até ter um flip, só pra convencional e velha forma de comunicação mesmo. Me sinto tão livre só de pensar na possibilidade. Mas vem também a ansiedade de não ter mais as facilidades que ter um aparelho com móvel com internet traz. Principalmente pelo uso de Whatsapp. Toda vez que trago essa ideia à tona, o Edson protesta. O Whatsapp a forma de comunicação mais fácil que temos. E eu ainda uso o aparelho para ouvir música ou audiobooks durante as viagens, pra consultar alguma coisa ou ler documentos. Além de ver avisos do curso, receber e-mails... Enfim, me seria limitante não tê-lo. Mas em casa não tenho necessidade de usá-lo. Quase não faço nada das coisas acima, e tem o computador pra poder fazer algo necessário. Mas como evitar de usá-lo apenas em casa?! Porque esse é o meu problema, o uso em casa. Quando não estou em casa, eu mal uso o aparelho. A não ser pra ver a hora, ouvir música pra não enjoar na viagem, e conferir alguma coisa, mas sempre muito rapidamente.
Pedi pro Edson me ajudar com isso. Chamar minha atenção se eu estiver vendo Youtube, esconder o celular de mim... Assim que ele começou a fazer isso, já vi que não daria certo. Eu fiquei querendo me esconder pra usar. E mesmo ele fazendo o que pedi pra me ajudar a controlar, eu ainda usei mais do que desejava. Então, resolvi que enquanto estiver em casa vou evitar de pegá-lo, e vou fazer outras coisas para não tocar no mesmo. Inclusive deixando-o descarregado durante esse período. Por isso estou aqui escrevendo essa publicação ao invés de estar redigindo o relatório que preciso. Isso aqui é fruto de frustração, principalmente com a compulsão pelo Youtube. 
Desejem-me sorte!

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