quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O preço do individualismo

Esses dias, enquanto lavava louça, lembrei do trecho de um poema que sintetiza bem o que venho tentando acatar em minha vida recentemente. A consideração e preocupação com o próximo, seja o próximo quem for. Eu tendo, egoistamente, a me fechar no meu próprio mundo. Alheia assim as necessidades e desejos das outras pessoas ao meu redor. Desde quem quer apenas desfrutar de minha companhia (sabe-se lá por qual motivo!), ou quem precisa de algo que eu posso prover. É lógico que aqui estou iniciando com uma reflexão micro, mas mais tarde chegaremos onde realmente importa.

Ao pesquisar, descobri que são poemas, no plural, e de mais de um indivíduo. Então, irei pedir licença para apresentá-los aqui:

Martin Niemöller

"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar."

Intertexto -- Bertold Brecht

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."

No caminho com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa

"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."

Todos esses textos representados acima, refletem sobre como se importar e lutar pelo próximo, significa na realidade, se importar consigo mesmo. Não desmerecendo o altruísmo*, mas trazendo-o para a crua realidade de nós humanos como espécie. O altruísmo, e a empatia são como mecanismos de autopreservação. Logo, não se importar com o outro, a ponto de desumanizá-lo para justificar nossa negligência ou mesmo atitudes prejudiciais, fará com que não tenhamos mais voz válida quando for o nosso momento de necessidade.

Por mais doce que seja pensar que nos bastamos na vida, que somos autossuficientes. A verdade é que somos seres totalmente dependentes uns dos outros, seja por companhia, aprovação, e indispensáveis (ou não) serviços e produtos. Como seres integrados em sociedade não temos o hábito de parar pra pensar o quanto precisamos do outro. Então, lá vai uma sugestão de exercício: faça notas mentais (se preferir, anote mesmo em papel ou no celular), de tudo que usou ou fez hoje, e que não seria possível se outra pessoa não pudesse providenciar ou dispor pra você. Talvez você note a importância de pessoas em quem usualmente você não pensa, ou não dá o devido crédito. Desde o agricultor que cultiva os alimentos que fazem parte de suas refeições três ou mais vezes ao dia (espero eu que pelo menos três), a sua mãe que acorda cedo para fazer seu café da manhã, ou a roupa que está usando que pode ter sido feita do outro lado do mundo por várias pessoas.

Nem todas as pessoas farão por você sem que possam receber algo em troca, nem todo mundo tem o interesse genuíno em sua existência (como seus pais, por exemplo), mas todos estamos numa teia de contribuição para mantermos uns aos outros. Que tal refletir sobre isso? Notar que somos seres da mesma espécie, com o mesmo objetivo (sermos felizes) e interferir na vida do outro APENAS para que esse alcance a felicidade, ou a mantenha. Claro que falo isso a respeito do dia-a-dia. Eu sei que há crimes a serem punidos, e pessoas que precisam de ajuda para enxergar o mal que fazem. Por isso que peço: pensem sempre se o que está fazendo prejudicará alguém, e aja de acordo com o que mais se encaixa com o pensamento de: não farei ao outro, o que não desejo que façam a mim. Porque o que acontece quando pensamos de uma forma, e agimos de outra, é que adoecemos. É de extrema importância que tenhamos o amor em mente, e que bons sentimentos guiem nossas escolhas. E nunca feche os olhos para uma injustiça, seja ela com quem for. Mesmo com aqueles que são o completo avesso do que nós somos. Injustiça é exatamente o que significa.



*altruísmo
substantivo masculino
  1. filosofia
    segundo o pensamento de Comte 1798-1857, tendência ou inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o outro e que, não obstante sua atuação espontânea, deve ser aprimorada pela educação positivista, evitando-se assim a ação antagônica dos instintos naturais do egoísmo.
    • amor desinteressado ao próximo; filantropia, abnegação.
https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/ciro-protesta-com-poesia-mas-erra-o-autor/n1237597600680.html
Apesar de esse link conter notícia sobre um presidenciável, quero dizer que sou avessa a conversar sobre o assunto, pois não tenho nada e nem ninguém para defender. É apenas a fonte conveniente dos textos que precisava para essa reflexão. Traduzindo: me deixem fora dessa!


Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas - 1933
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar."Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/ciro-protesta-com-poesia-mas-erra-o-autor/n1237597600680.html
Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas - 1933
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar."Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/ciro-protesta-com-poesia-mas-erra-o-autor/n1237597600680.html
Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas - 1933
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar."Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/ciro-protesta-com-poesia-mas-erra-o-autor/n1237597600680.html

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Sobre o que nunca foi segredo

Há um tempo que venho pensando em como me envolver com a causa LGBTQ+, em como ajudar pessoas que possam estar passando por problemas para se assumir, ou mesmo para aceitar a si próprio. Tentei encontrar aliados por aqui na cidade, mas não conheço muita gente (antisocial que sou), e as pessoas gostam do conforto de não precisar militar a respeito de nada. Resolvi então fazer o mais básico, aparecer, dizer que estou aqui, e quem eu sou.
A letra que me representa na sigla, ainda hoje é bastante controversa. Se por um lado temos a liberdade de nunca precisar sair do armário quando em um relacionamento hétero, por outro, ao nos assumirmos corremos o risco de sermos rechaçados no nosso próprio meio, e no caso de nós mulheres (junte a isso o machismo), assediadas por homens héteros afim de realizar fantasias sexuais com suas parceiras.
Depois de várias conversas a respeito com meu esposo, decidi que eu deveria sair do armário, que entrei sem querer ao me comprometer com ele. Minha orientação sexual nunca foi segredo, mas ao entrar na minha nova família, não foi algo que quis revelar para os meus sogros de gerações tão distantes da minha. Nem pessoas do nosso convívio, que com o tempo se mostraram homofóbicas. E eu permaneci calada, até agora. Mas, ao continuar assim, eu não estou apenas negando parte do que me faz eu, como também estou nos ferindo como causa.
Acredito que não tenho nada a perder nesse momento em minha vida, e estou cansada de ficar em silêncio. Eu nunca tive, e nunca terei vergonha de ser quem eu sou. E se alguém tem qualquer problema com isso, eu sinto muito. Mas não diz respeito a mim, só a você.
Sempre acreditei que preconceito pode ser uma questão de pura ignorância, e portanto, fácil de consertar. Nesse caso, eu aceito perguntas a respeito da causa LGBTQ+, contanto que sejam feitas com bom espírito, e de dúvidas genuínas. E se você faz parte da sigla, e pode se manifestar, não fique em silêncio. Quanto mais de nós vier à tona, mais a sociedade terá a oportunidade de entender, que não há nada de errado conosco. Que somos iguais aos demais, e que por amar quem amamos, não dá direito a ninguém de nos odiar. Porque ser LGBTQ+ não é só sobre com quem nos relacionamos sexualmente, é sobre uma luta pelo direito ao amor. O direito, que sim, deve ser universal, de ser amado e de amar.
Pretendo escrever muito mais sobre esse assunto no futuro. Principalmente nesses tempos obscuros que estamos vivendo.

Eu preciso agradecer a pessoa mais importante na minha vida, por sempre me dar apoio, e por aceitar essa causa comigo. Eu queria que todo mundo fosse um pouco como você Edson.

So, I'm here, and I'm queer!