segunda-feira, 17 de junho de 2019

Crescendo

Estava lendo a introdução de um livro sobre veganismo, quando a história da autora me lembrou de algo que eu queria falar há muito tempo aqui no blog. De como os relacionamentos mudam porque nós mudamos. E não estou falando sobre relacionamentos afetivos não, qualquer um, até familiares. Muda a dinâmica, o engajamento...

Eu sou casada com o Edson, e posso assegurar que há sete anos atrás, quando iniciamos esse relacionamento, ele e eu éramos pessoas totalmente diferentes de quem somos hoje. A base continua a mesma, pois acho que caráter é algo inerente ao ser humano. Mas nós evoluímos e crescemos muito juntos. Nos ajustamos, não um ao outro, mas a nós mesmos. É que na realidade, o ser humano tende a contradições, e agir em desacordo com o que acredita é mais comum do que o que nos parece. E nesse processo de descobrir e corrigir falhas, que eu acredito ser um trabalho constante, nós nos ajudamos muito.

Há alguns meses eu comecei a sentir que nós não estávamos na mesma página, e o assunto era alimentação. Eu deixei de comer carne, mas ainda consumia derivados de leite e ovos, porém desejava transicionar para uma dieta livre de crueldade animal. E alguns conflitos aconteceram. Como é de se esperar, ele se preocupava com minha saúde. E tinha razão, como vegetariana eu me alimentava muito mal. Eu me garantia no consumo de ovos e queijo para qualquer refeição, ao ponto de não me importar com vegetais em geral. Comecei parando de comer ovos, e logo era queijo em todas as refeições. Eu estava triste, mal alimentada, e ainda não me sentia em paz com minha consciência. Foi quando comecei a pesquisar mais sobre veganismo, a conversar mais com ele a respeito, e a colocar algumas receitas em prática. Tudo mudou a partir daí. Edson começou a engajar com conteúdos desse tipo, e a estudar reduzir seu consumo de carnes e derivados de leite. Hoje já estamos há mais de um mês de quando tudo se iniciou, e ele ainda come ovos (daqui do sítio) e queijo que sua mãe sempre deu, e isso porque ainda não é fácil para nós, fazer queijo vegano. E também pelo receio da reação dos meus sogros com uma dieta mais restritiva do Edson. Até hoje eles não aceitam a minha. Nossas refeições nunca foram tão ricas, variadas e deliciosas, sem contar como são muito mais saudáveis do o que costumávamos comer antes. Quanto a consumo, nós tentamos comprar de acordo com o que acreditamos. Cometendo alguns erros no caminho, mas agora eu não me sinto mais angustiada, porque o tenho ao meu lado, pensando e vivendo de acordo com o que sentimos que é a forma certa de viver, estamos fazendo o nosso melhor.

A resistência inicial era mais por desconhecimento que por filosofias diferentes. E sendo assim, tudo foi resolvido com um pouco de educação a respeito. Eu não impus nada a ele, como não posso fazer a nenhuma outra pessoa. O que posso fazer é despertar interesse. Então, apenas disse minhas razões, mostrei alternativas, e ele concordou comigo. Mas eu sei que isso é um privilégio, e eu sou muito grata e feliz por tê-lo sempre ao meu lado descobrindo coisas, e tentando sermos versões melhores de nós mesmos juntos.

Acredito que seja nesse caminho que algumas pessoas se afastam, quando crescem separadas, de maneira individual, e quando há resistência e falta de interesse no processo do outro. Nós somos uma "metamorfose ambulante". Quem está ao nosso lado vai nos ver mudar, seja para melhor ou pior, julgado a partir da vivência e crescimento do outro. Para continuar relacionamentos em harmonia, nós acabamos sempre comparando nossas crenças ao do outro. Algumas questões passam, mesmo com diferenças irreconciliáveis, afinal ninguém vai terminar com os pais. Mas em geral, é assim que amigos se afastam, relacionamentos familiares são restritos a obrigações, e casais se separam. Lógico que outro zilhão de elementos podem fazer parte de decisões assim, relações humanas são muito complexas! A gente se apaixona todos os dias pela pessoa ao nosso lado. Por atos, pensamentos, cumplicidade... E se isso não acontece, vamos ficando mais distantes, e a cada dia fica mais difícil ouvir e ver o outro, e nos enxergar nele. Como conclusão posso dizer, não descuide de suas relações, e não descuide de si mesmo. Seja curioso, e se ama a pessoa, ao menos tente ouvir sobre suas paixões, e se não vai fazer mal a ninguém, experimenta. O pior que pode acontecer é você descobrir que seu lugar não é ao lado dessa pessoa. Já o melhor que pode acontecer, é você se apaixonar outra vez pela mesma pessoa.

P.s.: Se a sua, ou seu, ente querido está engajando em questões prejudiciais a outras pessoas, ou a ele mesmo, esteja atenta(o) e ao menos tente fazê-lo notar isso. Mas você não é a/o responsável por salvar ninguém. Para resolver um problema, primeiro a pessoa deve perceber e admitir que tem um. Não o abandone, mas ofereça apenas o que pode dar, sem que isso prejudique a si mesmo. Seja consciente de seus limites, e respeite-os.