segunda-feira, 25 de maio de 2020

Encontro


Apesar de passar a maior parte da minha vida adulta de forma reclusa. Eu considero que o que me move, e por vezes me comove, é o contato com outras pessoas. E não só isso, mas a conexão derivada desses contatos. Então, depois que recuperei uma certa normalidade na vida, voltando a estudar. Até as férias já foram um tormento. Após duas semanas eu já estava chorando dizendo que bastava, imagina agora! E quanto mais o tempo passa, e as coisas ficam cada vez mais incertas, mais eu me dobro pra não me deixar tomar pela ansiedade de pensar sobre o que será do depois. Então vamos analisar o agora.

O nosso problema não é mais a pandemia do que nossa inabilidade de concordar em alguma coisa. Vivemos um momento de polarização. Não é o único da história, mas por estar acontecendo agora, durante uma pandemia, parece tão devastador!

As pessoas estão fora de contato umas com as outras, fora de contato com elas mesmas, e com a realidade. Porque essa é provavelmente uma das maiores crises a nível mundial que a humanidade está enfrentando, com tendências a piorar. E ainda assim a gente está envolvido em defender ou atacar personalidades. Sim, ao invés de nos unirmos para um bem comum, até as famílias estão divididas. A quem serve toda essa discórdia e caos? De onde vem essa esquizofrenia coletiva que estamos vivendo onde a vida, sua, de um ente querido ou de estranhos, é menos importante que continuar achando que está certo? O que aconteceu a essas pessoas para que se rendam a delírios sobre gurus, salvadores da pátria, e negacionismo da História, da Ciência?

Eu entendo a nossa tendência ao fanatismo, à tirania. É um alívio para a angústia de ter escolhas, de ser responsável por elas, e de não ter outra pessoa a quem culpar quando tudo dá errado. É resposta natural a uma sociedade que de repente nos coíbe com uma falsa liberdade apresentada através de escolhas infinitas. Quando na verdade, poucas vezes podemos escolher fora do padrão sem pagar o alto preço pela individualidade.

Quando não me enxergam como igual, quando me vêm como "o outro", eu me torno desumanizado. Quem me vê assim, me despe de direitos. Me tira a fala, e em consequência, a vida. Ser o outro significa não merecer nada de bom. Significa ser uma ameaça. Um bode expiatório para responsabilizar por tudo que considero ruim. E aí está o ponto de encontro da dicotomia que vivemos. Você, não importa em que lado esteja, é esse "outro" de alguém. Você pode estar vendo o próximo como parte de uma massa anencéfala, que é literalmente a escória do mundo contemporâneo. E essa pessoa, não está te vendo de forma muito diferente. Como se cura isso?! Não há pílula que nos resgate desse delírio, ou há?!

Crises são importantes oportunidades de crescimento. Crescer dói, não é prazeroso, mas é recompensador. A gente precisa de humildade pra acolher o próximo. Se ele esteve errado, dê oportunidade para que se arrependa, e que sua punição não seja o mesmo que seu crime, o isolamento, o individualismo. Esse momento não é o certo para torcer contra, eu diria que nenhum é.

Vamos recalibrar nossas emoções, nos reaproximar, nos ouvir. Não provoque, não ameace, e se sua intenção é que o outro enxergue a realidade, não ofenda. A ofensa é a garantia de não ter ouvidos pra alcançar. Encontre no outro o que têm de igual ou similar. Parta do princípio que como seres da mesma  espécie, ninguém é tão divergente do outro que não tenha, ao menos uma coisa em comum.

Tendo dito tudo isso, eu tenho que reconhecer que há pessoas além da redenção. Não tenho respostas do que é necessário para que elas sejam responsabilizadas. Mas, por agora, para lidar com elas, basta lembrar de não alimentar o medo, seu combustível. Não podemos forçar ninguém a pensar sobre seus atos, a sentir empatia, e agir com amor. Mas, uma vez conscientes, nós podemos fazer justamente isso.

O amor, amor por si mesmo e pelo outro, como uma extensão de você, e pelo que é divino dentro e ao redor de nós, isso é a única coisa que pode nos salvar de nós mesmos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Em busca de raiz

Já tive as mais diversas crises desde que essa pandemia se instaurou. O que tem mantido minha relativa sanidade é manter contato com os professores do meu curso, e algumas atividades aqui e acolá, meus encontros online com meu terapeuta, e minha contínua busca por conhecimento, em especial autoconhecimento.

Lendo sobre pós junguianos, me deparei com o James Hillman, e em seguida com a menção de Ecopsicologia pela primeira vez. Eu me entusiasmei por entender naquele instante, ser o casamento da psicologia com a ecologia, dois dos meus assuntos preferidos. 

Vi alguns vídeos do James Hillman falando a respeito, mas pra compartilhar essa novidade, eu precisava de conteúdo em português. Encorajada pela minha professora de Ética e meio ambiente, eu fui em busca. Não foi nada difícil encontrar bastante conteúdo, em forma de vídeo no Youtube, do psicólogo e teósofo brasileiro Marco Aurélio Bilibio. E até um site dedicado https://ecopsicologiabrasil.com/. De início eu estava fascinada, e vendo todos os vídeos de suas palestras e entrevistas. Agora eu to tentando agir com mais parcimônia e levar um tempo pra pensar a respeito do que ouvi. Já há alguns dias não vejo um inédito. No último vídeo seu é que notei, até pela fala dele, que, apesar da ecopsicologia ser um estudo recente, é centrada no conhecimento ancestral dos povos originários dos continentes invadidos, como também nas filosofias e religiões orientais, como o Taoismo, por exemplo. E por tanto, eu deveria me aprofundar nessas leituras e experiências. 

Antes de conhecer a Ecopsicologia, minha meta era ensinar Agroecologia, e assim enriquecer a vida das pessoas, com todas as possibilidades que a Agroecologia possibilita, tendo uma escola, ou mesmo ensinando em lugares diversos, mas definitivamente tendo um ambiente modelo. Agora tenho também a intenção de promover além do ensino ambiental, o bem estar humano, através da ecopsicologia, e dos conceitos de unidade com a mãe terra. E há a possibilidade, já que há cursos de formação, e até planos para um curso de pós-graduação. Não fosse a impossibilidade no momento, nem as incertezas, estaria me planejando pra seguir pra Brasília e aprender. Mas, tudo a seu tempo!

Daí, ontem o Youtube me sugeriu um documentário chamado "The Earthing Movie: The Remarkable Science of Grounding", e eu respondi assistindo. Inicialmente achei que seria sobre o processo degradação do planeta, eu não li nem o título inteiro. O vídeo começa seguindo um casal de cineastas e ativistas ambientais sofrendo as consequências por ter se exposto a um químico, enquanto gravavam sobre um grande vazamento de óleo. Depois, em busca de cura (ou melhora de vida) para a filhinha deles. E aí é que o filme realmente começa, nos contando a história de como, um dos autores do livro "Earthing: The Most Important Health Discover Ever" chegou a conclusão que usar sapatos nos isola do campo magnético da Terra, e nos inibe de trocar energia com nosso planeta, e de como isso é prejudicial para a nossa saúde.

É de se esperar que, no mundo atual, a ideia de que algo tão simples quanto ficar descalço possa melhorar nossa saúde é de, no mínimo se desconfiar. Mas como é fácil de testar, e se não há nenhum obstáculo, não haverá nenhuma contra indicação também (exceto em espaços urbanos). O intuito é ficar descalço, ou pelado se puder deitar no chão, e ter contato pele com terra, ou grama, ou pedra. Os autores do livro e adeptos da prática afirmam que esse ato tão simples tem poder de amenizar inflamações. E inflamações são as causas mais comuns dos sintomas que tendemos a tratar com remédios farmacológicos, sem ao menos saber sua causa. Um outro dado que recordei durante o filme, é que inflamações, seja onde for, estão ligadas à quadros de depressão.

Ontem mesmo experimentei ir a um lugar mais ou menos isolado do sítio, largar os chinelos e meditar de pé no chão e com a cara pro sol, debaixo das árvores. Foi delicioso, e eu me perguntei porque não é sempre assim que medito. Não sei se por consequência de ficar feliz com mais essa forma de reconectar com a terra, ou do ato em si, mas eu me senti mais calma e centrada ontem. E hoje, levantei mais cedo que o que costumo durante essa quarentena, e fui fazer algumas pequenas coisinhas pelo sítio. Mas eu precisava falar sobre isso com vocês, então passei um tempo fazendo outras amenidades, e agora estou aqui. 

Algumas palavras da minha professora de Ética e meio ambiente sobre propósito, e uns reflexos que fiz ao assistir o filme e perceber o processo que levou o Clint Ober a esse conceito da necessidade da conexão com a Terra, além da palestra no TED Talk do ativista e Jardineiroguerrilheiro, como ele se define, Ron Finley, que está mudando a saúde, os hábitos e a cara de sua comunidade na periferia de Los Angeles, me fizeram concluir que a experiência de cada indivíduo nessa Terra é única. Com elementos que não se repetirão da mesma forma em outra vida, e isso nos dá a possibilidade de enxergá-la e servi-la de forma única. Não pense que não há nada que possa fazer de bom. Como uma célula nesse organismo vivo, todos temos nosso próprio papel. Não abdique ao dever que é também o seu direito!

Vídeo do Youtube, entre palestras e entrevistas com o psicólogo e teósofo Marco Aurélio Bilibio:


Documentário Earthing no Youtube em inglês, não encontrei com legendas:

https://www.youtube.com/watch?v=44ddtR0XDVU&t=24s

TED Talk do jardineiro guerrilheiro Ron Finley com legendas:

https://www.youtube.com/watch?v=EzZzZ_qpZ4w