terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Desejo de ano novo

É fim de ano, e apesar de considerar isso de pouca importância, já que pra mim 'ano' é só uma forma de medir o tempo, eu sei da importância dessa época para outras pessoas. E sei também que o ano de 2018 será um ano diferente. Teremos eleições presidenciais ano que vem. E por enquanto não dá nem pra imaginar o quanto isso irá nos impactar, tanto nas mídias sociais, quanto fora delas, no mundo real, onde temos que falar as coisas na cara uns dos outros. Então, eu senti que eu deveria vir aqui, não desejar feliz ano novo ou qualquer mensagem genérica de fim de ano. Eu vim aqui falar sobre uma coisa muito importante, e que carrega sim um poder de mudança: empatia. Empatia, pode ser uma palavra nova na sua vida, mas talvez o conceito você já conheça. Ao menos espero que sim. Se não, aqui vai um conceito de dicionário a respeito:

- capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende etc.
  • psic processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro.
  • soc forma de cognição do eu social mediante três aptidões: para se ver do ponto de vista de outrem, para ver os outros do ponto de vista de outrem ou para ver os outros do ponto de vista deles mesmos
      
    Bem, basicamente é se pôr no lugar do outro para que, além de respeitá-lo, eu possa entendê-lo.
    Num ano em que as mídias sociais serão usadas avidamente pelas campanhas eleitoreiras, é possível que o ambiente se torne ainda mais tóxico, e por tanto, nós temos o dever de perceber qualquer tentativa de manipulação, como também de não nos comportarmos de forma nociva, on-line ou offline. Você não irá mudar a opinião de ninguém gritando com ela (ou o correspondente on-line, que é digitando em caixa alta), sendo ofensivo, xingando, se passando por intelectualmente superior, ou moralmente superior, sendo hipócrita, ou culpando o outro, agredindo fisicamente... Tudo isso só geraria mais desrespeito, ódio e violência. Ouça a pessoa, tente entender de onde vem aquela opinião. Qual a história dela. E se lhe for permitido, seja ouvido também. Mas nunca de forma agressiva. Mesmo que tenham sido agressivo com você. É um esforço, mas é uma escolha. Você pode também escolher não se envolver em discussões políticas e/ou ideológicas, e tudo bem. Mas tudo sempre com muito respeito. Porque, tenha certeza que se respeito é o que você quer, respeito tem que dar. Aquela frase religiosa de que "é dando que se recebe" não poderia estar mais correta em se tratando de respeito.
    Então, em 2018 eu desejo a todos vocês: empatia! E para os que pensam que já tem o suficiente, eu desejo ainda mais. Que ano que vem a gente consiga se colocar mais na pele do outro, ver os problemas com outros olhos, entender o próximo, e amar e respeitar muito mais.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Aos irmãos

Nesse fim de ano eu estou bastante reflexiva sobre meu comportamento com o mundo. Não porque é fim de ano, pra mim ano é só unidade de medida de tempo, nada demais... Mas porque tenho buscado melhorar. Melhorar em minha relação comigo mesma, e com as pessoas ao meu redor. Querendo mudar meu comportamento de "não sei lidar com isso, logo fujo" para "o que posso fazer pra acrescentar?!". Talvez minha natureza individual e solitária esteja pronta para se expandir. Ninguém consegue fazer algo sozinho, não é verdade? Mas eu dei um jeito de me isolar a ponto de, agora, não conseguir alcançar facilmente as pessoas. Talvez por conta de minha arrogância e/ou chatice as pessoas não sejam tão abertas a uma (re)aproximação.

Eu sou um ser em processo de reforma e construção. Gradualmente checando por falhas e tentando corrigí-las. Os males já feitos, fora do alcance de reparação, eu analiso e me esforço para que não haja bis. E ainda na busca de redenção, o que mais tenho buscado é a humildade de perceber quando isso aconteceu ou acontece, e a sabedoria para me posicionar de forma a melhorar a possível situação que criei. E também para notar quando devo agradecer, e eu só tenho a agradecer a uma porção de gente. Mas hoje em especial, resolvi dedicar esse texto aos meus irmãos: Wendel, Mateus e Vitória.

Wendel e eu tivemos muito mais tempo juntos. Partilhamos a infância, muitas brincadeiras e muitas brigas, mas também muitas conversas. Quando precisava de ajuda ou apenas de ouvidos, nós estávamos lá pra servir um ao outro. Em algum momento isso deixou de ser verdade, e a gente não mais busca o outro para confidências, o que eu lamento. Queria ter feito mais parte de sua vida até agora. Mas, ainda temos chance daqui pra frente. Você será pai em breve, meu primeiro sobrinho. E eu estou aqui para ouví-lo e tentar ajudá-lo no que puder.

Mateus, eu cuidei quando bebezinho. Cantávamos juntos, brincávamos, enfim... Até que ele cresceu um pouquinho e o Wendel virou sua referência. Eu sentia tanto ciúmes! Mas na sua pré-adolescência nós éramos os melhores amigos. Você é mais novo que eu, é verdade. Mas sempre admirei sua atitude e compromisso com o que se dispunha a fazer. Eu queria tê-lo ajudado quando mãe se foi. Eu não tinha maturidade pra alcançar você naquela época, talvez ainda não tenha. E eu sinto muito, muito mesmo por termos perdido a amizade que tínhamos. Ainda espero por uma chance de aproximação contigo.

Vitória, você era a irmã mais desejada antes de nascer. Eu sempre quis ter uma irmãzinha, e quando você nasceu foi um sonho realizado. Você foi meu grude até eu sair de casa. Infelizmente eu saí cedo, e não tive a chance de vê-la crescer. Talvez você nem sinta que sou sua irmã por conta disso. Eu também não soube lidar com você quando voltei pra casa. E as minhas tentativas de aproximação tiveram o efeito oposto, e eu te afastei e te enchi com cobranças desnecessárias. Não consegui atender suas necessidades. Eu fui egoísta e incompreensível. Talvez as nossas diferenças fossem barreiras muito grandes pra mim. Eu não sabia o que fazer, e como fazer. E então tomei as piores decisões com você. Espero que um dia você possa entender isso e me perdoar. Até lá, espero que me dê a chance de me redimir. Quero tá bem pertinho de você. E ser seu porto quando precisar.

Wendel, Mateus e Vitória, nós tivemos uma mulher muito especial como mãe. Infelizmente, vocês tiveram com ela, muito menos tempo que eu. Eu sei que nós não somos as pessoas "mais família" de que se tem notícia, e acabamos vivendo nos nossos próprios mundos. É algo peculiar nosso mesmo. Mas eu quero que saibam que eu os amo. Vocês e vó são a única família que tenho. E é a melhor que eu poderia ter. Se mãe estivesse viva hoje, ela teria orgulho de todos nós. E nós devemos honrar sua memória sendo o melhor que pudermos ser. Vivendo a nossa vida, de uma forma que ela não teve a chance de viver. Nós devemos isso a ela, e a nós mesmos. Obrigada por todos os momentos que partilhamos juntos até hoje. Guardo com carinho tudo que vivemos enquanto crescíamos. E espero que me deem o privilégio de fazer parte da vida de vocês daqui pra frente também. Eu estarei sempre ao alcance, lembrem-se.
É fim de ano, e apesar de pra mim "ano" ser apenas uma forma de contar a passagem do tempo, eu entendo a expectativa que as pessoas empregam no ano que vem. Este ano em que ainda vive,os foi um ano duro, politicamente e consequentemente, financeiramente. E ninguém sofre mais com isso do que os pobres e a classe média, ou seja, a maior parte de nós. Eu queria ter uma mensagem de esperança, e dizer que ano que vem tudo será diferente e maravilhoso. mas eu não estaria sendo honesta. Ano que vem

Direito universal de ser criança

Eu cresci nos anos 90s. De vivência, eu não sei o que foi a Ditadura, não conheço grandes guerras, ou fome e desespero. A educação era prioritária em casa, não sofri pressão pra trabalhar cedo. Minha mãe e vó se dedicaram bastante pra que eu e meus irmãos pudéssemos crescer sem que sofrêssemos como elas sofreram. Nós vivíamos num dos piores bairros da cidade, que é pequena. Morte por arma de fogo era comum enquanto eu crescia alí. Geralmente resultado de briga de bar. E, nesse bairro, bar é o que não faltava. Tinha também uma escola, onde estudei até a terceira série, e uma igrejinha católica onde passei muito tempo dessa infância. Quando era bem novinha, eu achava que o mundo era meu bairro. Não era um mundo bonito, mas eu era criança, não entendia ou me preocupava com nada. Meus melhores momentos foram as atividades com as filhas de minha vizinha, que adotei como madrinha. Passava mais tempo na casa de minha madrinha, que em casa mesmo. Elas me ensinaram a ler e escrever. Com elas eu não precisava apanhar pra aprender (minha mãe perdia a paciência comigo). As minhas melhores lembranças existem, porque elas estavam ao meu lado. Eu fui recolher madeira pra fazer fogueira de São João, na já desativada Fazenda Grande, fui "pescar camarão" em riacho, provavelmente nessa mesma fazenda, uma desculpa pra andar no mato, cair na água e sair com meus vizinhos. Colhi pepino, coentro, maxixe... no sitiozinho de meia* onde minha madrinha plantava. Lavei batata em cocho feito de pneus grandes (de trator, talvez!), varei madrugada vendo os caldeirões gigantes de amendoim sendo cozidos no terreiro de casa. Comi muita salada de tomate, muito maduro pra venda, com bastante sal e vinagre (delícia!). Joguei dominó, e toda brincadeira que aprendi quando criança com as filhas de minha madrinha. Nossas casas, tão próximas que dava pra falar e ser ouvido na outra, nos fizeram como irmãos. Eu amava a casa deles. Tinha reservatório de água (pra mim, era como uma piscina), tinha fogão à lenha, muitos quartos, e minha madrinha fazendo mágica, transformando tecido em roupa na máquina de costurar. Meu sonho era morar naquela casa, com eles. Mas no fundo, era como se morássemos todos juntos já. Um dia minha madrinha foi embora do bairro, na época eu não conseguia entender o porquê, até hoje não sei bem o motivo. Eu odiava a nova vizinha. Pra mim, ela era o motivo da mudança. Eu queria ter tido mais tempo ao lado dessa família, mais tempo juntinha com a minha. À minha vó, minha mãe e a minha madrinha e seus filhos, eu devo minha infância, e parte do que sou hoje. Eu tenho ótimas memórias desse tempo, e quase não consigo lembrar de alguma sem vocês!

*propriedade arrendada, onde o dono da propriedade a cede para uso mediante pagamento pré-definido ou participação nos lucros.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Raison d'être*

O que parece um privilégio deveria ser um dever universal. Pensar sobre quem somos e qual o nosso papel no mundo. Por vezes é o que me deixa angustiada, é verdade. Mas não trocaria isso por uma vida tranquila só sendo conduzida de uma baia a outra. Passei muito tempo da minha vida em suspensão. Sem aprender nada, sem nada acrescentar ao mundo. Não quero continuar assim. Eu quero fazer diferença. Nesses últimos anos eu aprendi bastante coisa. Aprendi muito sobre a vida e as pessoas. E aprendi que somos capazes de muito mais do que imaginamos. Basta interesse e esforço.


Me vejo aqui, com trinta anos, supostamente adulta, e sem saber o que quero pra minha vida. Eu tenho inúmeros interesses. Mas nada me apetece a sair da inércia e realmente fazer algo. O que eu quero fazer tem que ser significativo, e não apenas por dinheiro. Tem que ser a diferença na vida de outras pessoas. Porque o que eu quero fazer É a diferença na vida de outras pessoas. Mas como?!


Já pensei em escrever, desenhar, pintar, esculpir, costurar, fazer artesanato... Tudo isso também com o intuito de fazer dinheiro, não muito, mas uma forma de me manter ativa e independente. Talvez mais ainda pela cobrança social de não viver no ócio. Mas é claro que também por um desespero de contribuir. Também já quis trabalhar ensinando todas as atividades acima. Mas pra isso, penso eu, deveria masterizá-las primeiro. Daí surge um entrave, perseguir apenas um interesse a ponto de dominá-lo com o intuito de passar a frente. Eu não faço ideia de porquê, mas eu me saboto. Não sei fazer nada disso bem. Começo, e paro de estudar com a falta de perspectiva e crença em mim mesma.


Posso parecer arrogante e desocupada para as pessoas que apenas lutam para sobreviver. Que tem filhos, casa e boletos a pagar, e quase não têm opção de tentar pensar em se realizar. E até pode ter razão em pensar assim. Mas eu não estou querendo que você se afunde em problemas a ponto de esquecer de si mesmo. Eu desejo fortemente que todo mundo possa, além de pensar em perseguir um sonho, persegui-lo realmente. E que não seja apenas movido pela ambição de acumular riquezas materiais, mas de enriquecer o mundo de alguma forma. Fazer a si melhor, fazer o mundo melhor!


Meus projetos para um mundo melhor, ou ao menos uma cidade melhor, a cidade onde moro agora, Itabaiana, são sempre grandiosos demais para se colocar em prática. Sempre envolvem muitos recursos e principalmente muitas frentes de interesse. Das pessoas envolvidas e dos beneficiados. Mas sempre com o intuito de dar o poder de domínio aos indivíduos privados de si mesmos. Fazendo com que eles possam crescer por conta, se ajudar, e ajudar outras pessoas. Numa verdadeira cadeia de bem gerando o bem, e nos engrandecendo como indivíduos e sociedade. Mas o empecilho maior é o mesmo: a vontade de mais pessoas. Por isso estou escrevendo, procurando por pessoas com as mesmas angústias e/ou desejos.


Agradeço a quem ler esse texto e se tiver interesse em discutir sobre o assunto, ou quiser começar a se questionar sobre essas coisas, eu posso tentar ajudá-lo, ou ao menos vamos sofrer ou ser felizes juntos.


*Raison d'être é um termo francês que significa, numa livre tradução, razão de ser. Como em o principal propósito na vida de alguém. Seu maior objetivo. Seu motivo para existir.