Precisamos falar sério sobre algo: sexo! Hoje li um artigo do Huffpost Brasil que fala sobre interações sexuais onde as mulheres não se sentiram confortáveis, expressaram de forma "educada" para o parceiro, e mesmo assim tiveram que passar por momentos não desejados, desagradáveis e/ou constrangedores. Essa discussão é importante, principalmente dentro do movimento #MeToo, que denuncia casos de assédio sexual, ou mesmo estupro, desde o ano passado.
Tudo começou em Hollywood com a repugnação ao comportamento predatório e bullier de um grande produtor cinematográfico, Harvey Weinstein. Apesar do movimento #MeToo existir desde 2006, ele cresceu e se tornou viral no final de 2017, com o uso da hashtag pela atriz Alyssa Milano, em solidariedade a sua amiga, Rose McGowan, primeira a denunciar Weinstein. O que se seguiu foi, ao menos nos EUA, uma onda de denúncias de outros casos envolvendo, em sua maioria, homens que abusavam de algum poder que exerciam sobre suas vítimas, geralmente no meio profissional, para levá-las a praticar sexo com eles, ou receber algum tipo de "favor sexual". Falei de "em sua maioria homens", porque também houve denúncia contra uma mulher, (até onde sei). A cantora pop Melanie Martinez, que foi denunciada por uma amiga.
E não só mulheres se juntaram ao movimento, como homens, nesse caso assediados por outros homens. O primeiro do qual recordo foi o ator Terry Crews (o eterno pai do Chris), que alegou ser pego pelas genitálias por um agente de Hollywood durante uma festa onde estava ao lado de sua esposa. Outra denúncia vinda de um homem, foi a do ator da nova série Star Trek Discovery, Anthony Rapp, que revelou ter sido assediado pelo ator Kevin Spacey numa festa em sua casa, quando tinha apenas 14 anos. O que levou Kevin Spacey a se "desculpar" saindo do armário. Uma mancada épica, e um desserviço para a comunidade LGBT.
Um debate extremamente importante se iniciou com todas essas denúncias, e um movimento de mulheres não mais se calando diante da violência verbal ou física e de cunho sexual, tão bem estabelecida na nossa sociedade, que foi usada como justificativa por alguns dos denunciados. Que alegam, ao se defenderem, que cresceram entendendo que esse tipo de comportamento é "normal". Agora talvez caminhamos para um mundo onde, não só se condena esse tipo de comportamento, mas não mais se aceita. Um momento em que todos devemos debater sobre nossas interações sexuais. Dentro desse contexto, onde mulheres denunciam violência sexual, não parece certo dar voz a casos em que, aparentemente o que aconteceu foi consensual.
Muito se fala sobre consensualidade, também. Como qualquer assunto tabu, sexo não é diferente. Está cercado de nebulosidade e nuances. Ainda fazemos joguinhos, onde as diferenças de papel entre os gêneros (homem e mulher) é muito grande, e distante do ideal num mundo mais igualitário. As mulheres ainda não conseguem se expressar sexualmente sem serem reprimidas de alguma forma por isso; não conseguem dizer não, de forma clara e concisa para um homem, por não querer parecer rude, e por um instinto de não desagradar. E, por consequência, muitos homens acabam usando essa ambiguidade como desculpa para continuarem encontros sexuais em que as mulheres se mostram desconfortáveis. Afinal, eles não sabem interpretar os sinais que recebem delas. Sejam físicos ou verbais. Ah, me poupe! Nós convivemos há muito tempo em sociedade para não entender frases como "está ficando tarde..." e coisas do tipo.
Aqui no Brasil, em 2015 tivemos um movimento bem interessante sobre
assédio: #primeiroassédio, campanha iniciada pela Juliana de Faria do
Think Olga, após polêmicas envolvendo uma participante de 12 anos do
programa Master Chef Júnior. Por aqui, sofreu um impulso pela temática
da redação do Enem daquele ano "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Mulheres
e garotas, usaram a hashtag nas redes sociais para comunicar sobre a
primeira vez que sofreram alguma violência verbal ou física, sexual. Um ato de denúncia e de apoio feminino. Infelizmente, por aqui, o
movimento logo esfriou. E tantas discussões interessantes que haviam
sido criadas, logo desvaneceram. Uma pena!
Ao meu ver, devemos aproveitar esse momento para nos educarmos sobre o que é, ou não, saudável e aceitável, sexualmente falando. Não há uma só mulher que em algum momento da vida, não tenha sido assediada, ao menos verbalmente. E sim, isso inclui frases de "pedreiro" quando se passa na rua. E não, não é, e nem deve ser aceitável, e muito menos desejável. O assédio começa muito cedo nas vidas delas, infelizmente. E muitas mulheres desafortunadas, sofreram, ou sofrem constantemente, algum tipo de violência sexual. Afinal, vivemos num país onde, segundo dados de 2014, um estupro acontece a cada 11 minutos. Ontem mesmo fiquei sabendo de uma música que a letra normaliza o ato sexual com mulheres bêbadas, de forma esdrúxula. Sendo vangloriada como possível hit do verão. Pra quem não sabe, isso constitui crime de estupro de vulnerável. Posso fazer uma lista aqui só com músicas que fizeram sucesso, com letras bastante problemáticas sobre sexo e mulher.
Há muito o que se falar sobre o assunto. E espero que a discussão chegue por aqui de forma mais concisa, e em todas as camadas sociais, não só da elite que lê jornal e sabe inglês. Nossas meninas precisam se descobrir pessoas. Saber que tem todo direito sob seu próprio corpo, inclusive o direito de falar não no meio de um encontro. Se uma das partes não está confortável com a situação, nada mais justo que se expressar. Não precisa ter medo de ser mal educada, ou mesmo rude. Se a pessoa com quem você está realmente valer a pena, ela nunca irá questionar sua indisposição. No máximo você não terá um segundo encontro ruim.
> http://www.huffpostbrasil.com/2018/01/17/sobre-aziz-ansari-e-sexo-consentido-que-e-violento-mesmo-que-nao-seja-criminoso_a_23336027/?ncid=fcbklnkbrhpmg00000004
> http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2017/09/17/internas_polbraeco,626604/brasil-registra-um-estupro-a-cada-11-minutos.shtml
> http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/05/dia-nacional-contra-abuso-sexual-de-criancas-e-jovens-e-celebrado-nesta-quinta-18
> http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/11/1700865-criadora-de-campanha-sobre-assedio-considera-tema-do-enem-uma-vitoria.shtml
> http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2018/01/16/internas_viver,738395/surubinha-de-leve.shtml
> http://direito.folha.uol.com.br/blog/fazer-sexo-com-algum-bbado-estupro
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