sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O vergonhoso descaso com o próximo num país dito de cristãos

Pobreza e ignorância quase nunca é escolha. Mas para algumas pessoas é quase como uma doença contagiosa. Não chega perto de pobre, e se vangloria de ser educado (no sentido de ter estudado). Separando-se dos demais "miseráveis". Quase sempre atirando pedras aos que tentam pôr luz nos problemas sociais mostrando que muito disso é culpa do nosso descaso, nossa separação com relação ao outro humano, o que sofre as injúrias de maus governos, consequência de atitudes que não mudam há séculos.
Claro que eu tenho medo de ser assaltada, ou sofrer qualquer forma de violência por parte dos marginais que a nossa sociedade criou. Mas isso não quer dizer que eu concordo que essas pessoas praticam violência porque nasceram pra isso. Nada do que iremos fazer é definido no nascimento, ou antes disso. Retire os bens materiais de um grupo, não os dê condições de viver dignamente, os isole do resto da sociedade, os diminuindo como indivíduos por um bom tempo, prive-os de oportunidade de crescimento pessoal ou de comunidade, e você terá, possivelmente, o mesmo resultado que temos hoje com a maioria (não todos!) dos pobres que moram em favelas ou periferias, e não só daqui, mas talvez do mundo.
Muitas pessoas não fazem ideia de como surgem diferenças sociais, e principalmente, de como essas diferenças se sustentam ao longo do tempo. E não se importam nada com isso. Porque elas estão bem, e é isso o que interessa no fim das contas. Sei que o moleque que mata para assaltar é assustador, mas pense nele como produto de uma máquina ainda mais assustadora. E pense que você é uma peça dessa máquina. Sente-se a vontade com isso? Continua se abstendo de culpa e desejando que esse "produto" simplesmente "deixe de existir"? Melhor começar a ver o outro como responsabilidade nossa. Se importar com o outro é o que cura a sociedade, é o que pode consertar a máquina para que gere melhores produtos. É como com o planeta, cada um fazendo sua parte!

Ps: Engraçado essa coisa de "feedback", antes se lia apenas o texto do jornalista ou colaborador de uma revista ou jornal. Caso você não discutisse o assunto com alguém, aquilo ficaria só pra você. Não geraria mais debate. Hoje, qualquer um (até quem não tem opinião a respeito do assunto) pode comentar um texto. E muitas vezes alguns comentários de poucas linhas são até mais interessantes que uma página inteira sobre o tema. Como também, em muitos casos, não se encontra nada de útil nessas respostas. Só alfinetadas políticas (de politicagem: "coxinhas" x "petralhas") ou qualquer baboseira ainda mais insignificante ou repugnante. As vezes o autor lhe causa um espanto, como neste texto onde soube da morte ignorada do garoto Christian Andrade, de 13 anos que tentava proteger uma idosa. Aquilo te dá um nó na garganta. Um sentimento de impotência diante dos fatos sob os quais não se tem poder algum, pois já passou, e a morte não se cura. Daí um comentário desperta sua fúria, quando tenta jogar tudo de volta para escuridão alegando ser tudo só falácia. Lembro das pessoas que dizem "Tá com pena? Leva pra casa então!" a respeito dos marginais. Fico aqui pensando, que muito "marginal" tem mais coração do que muita gente tida como "de bem".

Reflexão sobre o texto e comentários do link: Baile do medo de Marcelo Freixo


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